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20 maio 2019

Nota do Quilombo Invisível sobre o 15M

No dia de 15 de maio 2019 mais de 2 milhões de pessoas foram às ruas das cidades brasileiras contra os cortes na educação. Foi um enorme enfrentamento ao governo Bolsonaro e provocou mudanças numa conjuntura estruturalmente instável desde o início do ano quando os povos indígenas apontaram para as mobilizações radicalizadas como rumo, sem esquecer a tramitação da reforma da previdência no congresso e da preparação de uma greve geral convocada em unidade pelas centrais sindicais para o dia 14/07.  O embate com a educação promete catalisar as lutas e colocar este governo à prova.

A direita não ficou passiva e reagiu aos protestos: seus principais movimentos e figuras públicas já se pronunciaram, grande parte criticamente ao governo. É a tecnologia de produzir sua própria oposição – que tem sido uma ferramenta que o atual governo copia desajeitadamente de seus antecessores petistas, que tiveram origem em movimentos da classe.

A lição que fica já está colocada há mais de uma década e é a que teremos de aprender, a que teremos que digerir em autocrítica para conseguir lidar com a conjuntura. Essa lição nos mostra que nós disputaremos com as classes dominantes tanto nas mobilizações de rua e ação direta quanto ideologicamente, pelo rumo das nossas próprias mobilizações.

Nesse sentido, o governo Bolsonaro tem convocado manifestações para apoiá-lo no dia 26/05; o discurso do presidente e do núcleo de seus apoiadores mais próximos (de inspiração Olavista) tem se radicalizado e defendido abertamente o fechamento do congresso e do Supremo Tribunal Federal. As possibilidades de um “auto-golpe”, de renúncia ou mesmo de um novo impeachment estão sendo discutidas abertamente nos principais jornais do país. A hipótese ultra-autoritária ronda e é, ao mesmo tempo, banalizada com sua discussão aberta pelos expoentes circunstancialmente no poder. Soa como certo Caos Orquestrado, que nos absorve toda atenção entre escândalos diários ou pode soar também como bravata um possível fechamento do regime. Alerta! Em tempos de banalização do termo “golpe” devemos nos manter atentos a essas possibilidades reais e nos preparemos para isso. Preparar-se para isso é, neste momento, ser capazes de lidar com as lições e atuar melhor do que já atuamos nas ondas de luta que nos inundaram desde 2013 para em seguida refluir.

O 15M foi convocado pelas entidades estudantis burocratizadas e sindicatos antes do anúncio dos cortes na educação mas com a efetivação dos cortes a mobilização tomou um corpo muito mais amplo, com múltiplas convocações descentralizadas e com o envolvimento de setores normalmente alheios às lutas, como estudantes e pesquisadores das áreas de exatas, biológicas, aplicadas, etc. O 15M foi marcado pela realização de assembleias massivas em universidades, institutos federais e escolas da rede, pela realização de aulas públicas, protestos descentralizados, intervenções artísticas, travamentos de grandes vias e pela paralisação de instituições de ensino públicas e privadas.

Esse caráter mais autônomo que está latente no movimento precisa ser fortalecido se quisermos ter alguma chance de abraçar melhor o ímpeto de revolta que outra vez chega com essa onda mobilização. Nesse sentido foram convocadas pelos secundaristas em luta de São Paulo, recuperando o legado das ocupações de escolas de 2015 e 2016, mobilizações para essa quinta feira, dia 23/05, em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e também um ato em Berlim, na Alemanha. Não devemos desperdiçar a oportunidade que nos dá este ascenso de lutas em defesa da educação e precisamos fortalecer os laços com militantes e ativistas de outras escolas, de outros estados e mesmo de outros países. A articulação do campo mais radical do ativismo é possível se formos capazes de autocrítica e ela é mais do que necessária, nacional e internacionalmente, para barrar a precarização absoluta da vida e destruir toda a engrenagem de exploração, opressão e disciplinamento.

Importante também que não percamos de vista o longo prazo, precisamos saber nos conduzir em mais essa enorme onda que pode bloquear a destruição dos serviços públicos pelo governo. Pode dar certo, mas apenas se não repetimos os mesmos erros, a cilada de nos destruirmos no processo. Que essa onda nos ajude a avançar criando estruturas para seguir no enfrentamento, organicamente enraizados no caldeirão de revolta que tende a explodir. A naturalização da vida em crise está em crise. Tudo é espetáculo e mesmo o seu exagero não tem sido capaz de emendar as fissuras, que seguem aumentando. Fora do espetáculo está o tempo real, movendo-se muito mais lentamente, mas com impacto que sentimos todos quando certa multidão se coloca em marcha. Que sejamos os invisíveis, cotidianamente a conspirar mudança, para que estejamos visíveis nas ruas, como parte de um processo maior que nós, maior que a conjuntura imediata e que por vezes escapa das possibilidades de controle do poder.

SÃO PAULO: 17h no MASP  https://www.facebook.com/events/1013907632132142/?ti=cl

RIO DE JANEIRO: 17h na Candelária https://www.facebook.com/events/2362644143954891/?ti=cl

CURITIBA: 17h30 na Praça Santos Andrade https://www.facebook.com/events/453549105420454/?ti=cl

BERLIM/ALEMANHA: 11h na Embaixada Brasileira https://www.facebook.com/events/2856939607865384/?ti=cl 


Foto do bloco autônomo puxado pelos Secundaristas em Luta de São Paulo no 15M

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