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25 jul 2019

Luta na Zona Norte: Ocupação Casa Cultural do Hip-Hop Jaçanã

A ocupação da Casa Cultural do Hip Hop Jaçanã está localizada na Avenida Maria Amália Lopes de Azevedo nº 4180, na Zona Norte da cidade de São Paulo. Antes o espaço abrigava um Telecentro inaugurado em 2011 pelo prefeito Gilberto Kassab – os Telecentros surgiram como o primeiro programa de inclusão digital nas regiões periféricas da cidade de São Paulo – mas o programa foi descontinuado e o espaço deixou de ter atividades e se manteve fechado. 

A ocupação da Casa Cultural do Hip Hop Jaçanã reúne, desde 2016, diversos coletivos e moradores que consolidaram suas atividades em um espaço abandonado pertencente à Prefeitura do Estado de São Paulo, responsável pela execução de programas.

A auto-organização dos coletivos e moradores fez com que hoje a Casa Cultural do Hip Hop Jaçanã seja um espaço onde existem as mais diversas atividades educacionais e culturais para as crianças, jovens e adultos do bairro. Hoje temos aulas de capoeira, aulas de dança, aulas de música, saraus, cursinho popular, cine-debates, rodas de conversa, horta comunitária, distribuição de leite, dentre outras atividades. A estruturação de uma Assembléia mensal fez com que as pessoas participassem não só das demandas referentes à Casa Cultural, mas também percebemos as demandas do nosso território dentro da situação atual. 

Vivemos num contexto em que a opressão e a exploração só pioram na periferia. O aumento do desemprego, aliado ao aumento do preço da passagem do transporte público e à necessidade de se locomover para a cidade ao trabalho e espaços de lazer, fez com que essa população de baixa renda – majoritariamente mulheres, negros e jovens – se concentrasse ainda mais na periferia e tivesse que recorrer aos espaços públicos. Entre eles, a Ocupação da Casa Cultural do Hip Hop Jaçanã.

Contudo, a Prefeitura solicitou em Janeiro de 2019, a reintegração de posse da Casa Cultural para a implementação de uma Guarda Civil Metropolitana (GCM), responsável pela proteção do Patrimônio. Após aprovação da Lei 13.022, que fornece poder de polícia às Guardas Municipais aprovada pela Dilma Rousseff em 2014, a GCM tem assumido cada vez mais o papel da Polícia Militar com direito ao porte de armas. A Prefeitura, junto com a GCM, continua com o projeto de combate à Arte Urbana, o que também afeta diretamente o movimento que ocupa a Casa Cultural do Hip Hop. Após a realização de uma assembléia de coletivos, moradores e apoiadores no começo de janeiro, foram organizadas uma série de atividades culturais para a divulgação do caso e sensibilização sobre a situação da Ocupação para a comunidade.  

Outra ameaça importante da dinâmica geográfica do território que afeta diretamente a Ocupação é a população do bairro vizinho, o Jardim Guapira, que cada vez mais tem criminalizado o espaço e realizado denúncias ao poder público. A Ocupação passou a fazer parte da pauta de reunião dos moradores das casas de luxo e condomínios fechados do bairro vizinho.  

No dia 12 de julho, – durante a organização e limpeza da Casa para a Festa Juliana – a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) entrou na ocupação e desligou o fornecimento de água sem aviso prévio, com o discurso de que haviam recebido denúncias da irregularidade. Na última assembleia, discutimos como proceder com a regularização da Casa Cultural, visto por alguns que esse seria o melhor caminho para resolver o conflito ali instaurado entre poder público e moradores do bairro vizinho. Neste momento, o problema principal é o corte de água do espaço, que inviabiliza a limpeza e a irrigação da horta comunitária. 

A ocupação está em uma luta de vida ou morte. A luta não é, como os moradores do bairro vizinho falsamente alegam, “um grupo de drogados e bagunceiros”, mas sim um grupo de pessoas da periferia e da classe trabalhadora. Nós enxergamos claramente uma contradição social que nos atinge diretamente; e agora todas as pessoas que defendem a Ocupação da Casa Cultural estão sendo levadas a participar da batalha em defesa do nosso território, vítimas da mesma violência que, por muito tempo, manteve a população de baixa renda em luta pela sobrevivência.

Nesse momento, todo apoio é essencial, por isso convidamos coletivos e pessoas, da região ou não, para somar na nossa luta e na construção desse espaço. 

Nesse sábado, dia 27 de julho às 13h, estaremos na Casa Cultural do Hip-Hop Jaçanã para debater gênero, raça e a luta de classes e depois, às 16h, haverá Cortejo do Boi Bumba com o Conto no Pé da Árvore. Convidamos todos a comparecer e ajudar a somar na luta. 

Acompanhe as atividades da casa em: https://www.facebook.com/casaculturalhiphopjacana/ 

Nathália Ract da Silva – Moradora do Jaçanã, na Zona Norte de São Paul, atua na Ocupação da Casa Cultural do Hip Hop Jaçanã, é militante do Quilombo Invisível e da Revista Amazonas.

2 Comentários

  • Kric Cruz disse:

    Vou tentar colar neste domingo

  • Davi Albuquerque disse:

    Estando em luta!

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