DIFERENÇAS OCULTAS
As vezes não me levam a sério, não me levam a sério tudo que eu passei, racista de alguma forma você já passou? ou será que na amarelinha pelo inferno se nunca pisou?
Talvez não né, veja na árvore genealógica o seu tataravô olha lá quem foi escravo e quem foi quem escravizou!!
E as vidas é que vale, quem não vale é a vale das barragens,preocupado com quadro de Salvador Dali e de Portinari, mas tá com lama até o pescoço.
GRITO DA ALMA
Sou como a noite que passeia sobre o dia como nuvem de tempo nublado encobrindo seu racismo velado te dou banho de água fria.
Sou chuva ácida no terreiro do seu condomínio fechado,sou chuva de água doce pra quem tá no terreiro descalço, pra quem joga capoeira,ou que faz doce no tacho.
Eu sou da cor de ébano da cor de terra fértil, terra preta,descendentes de negros escravizados.
Sou o pior pesadelo pra quem um dia quis nos ver calados, pois a voz negra não será só vento e sim um tornado.
LEMBRANÇAS
Eu eu me encanto com esses lances de poesia e eu via poesia em tudo e em tudo desde criança via poesia.
Poesia via nos olhos da minha mãe, quando chegava do trampo mãe solteira cansada exausta mas mesmo assim sempre sorria com o rosto de sertão veredas e o sorriso de Elis Regina.
E como Elis minha mãe também queria uma casa no campo, construiu uma casa no gueto e continuou sonhando.
LICENÇA MARGINAL
Licença aí mais uma vez gratidão por aqui estar, chego bolando e dichavando uma ideia pra nos trocar, trago na mão sempre arma caneta pra disparar, e no disparo do papel o sentimento a se expressar.
É várias fitas que acontece que não dá pra
acreditar ,tipo descaso e o desprezo do sistema a fermentar.
E no fermento cresce o bolo, mas cuidado pra não solar
É mãe pedindo troco no trem pra um rango
poder comprar.
É ambulante vendendo bala no trem, e os guardinha pra boicota.
É madame comprando gucci para hi society se orgulhar.
É o mano comprando pedra pro cachimbo trabalhar…
VITRINE DO COTIDIANO
Vitrine acordou pulou molhou rosto esfregou,escovou os dentes bocejou,se olhou no espelho, se olhou por um segundo como se parasse o mundo na frente do espelho,pela primeira vez na semana se achou um ex feio,talvez por que no dia anterior tenha recebido uma cantada um gracejo.
Vitrine busão tudo abarrotado parecia um navio negreiro,pra variar começou a chover vidros a se fechar desespero no olhar,ai como se fosse a tentativa de um último suspiro olhou pra cima pingou.
Gluk goteira gluk gluk goteira goteira, gluk,como no filme matrix se esquivou,deu um passo pra trás se esquivou,olhando a janela do busão observou o caos que acontecia la fora.
Vitrine,chegou desceu correu mas se molhou,chegando no trabalho bateu o dedo murmurou:40 minutos depois atrasado, atrasou!
Trocou de roupa,equipamentos de trabalho era metalúrgica peça de carro,ligou a máquina começou, peça vrum rosca peça vrum vrum rosca peça vrum não prestou peça vrum dimdimdimdim, horário de almoço dedo no ponto não se concentrou por que a cada garfada incontida ele escutava em sua mente peça vrum rosca peça vrum vrum engasgo.
Tomou um pouco de suco dedo no ponto voltou terminada a jornada de trabalho dedo no ponto vazou, a caminho do ponto de ônibus observou o carro que estava na vitrine, olhou e lembrou que um daqueles carros que ali estavam tinham uma das peças vruuu rosca que ele confeccionou.
Pra dentro da vitrine busão cansado segurou na barra como se fosse uma bengala cochilou, perna dobrou perna dobrou,como se fosse uma marionete sendo controlado por fios sentiu embaraço acordou.
Quase perdeu o ponto thum slow motion tudo em preto e branco é hora de encarar o corredor,como num filme nazista foi passando:com licença com licença com licença, péééé, parada solicitada olhares feios encaradas como se fosse ele o culpado de toda essa palhaçada (Não é Sr governador ) em sua mente pensou.
Vitrine em casa chegou banheiro tra tra chuveiro ligou,cotidiano escorrendo pelo ralo la se vai mais um dia de Vitrine e de peça vrum vrum rosca e de goteira gluk gluk e atrasos.
Saiu vestiu a roupa esquentou o de comer no microondas a TV ligou, derrepente o homem que estava sossegado e o cotidiano que tinha escorrido pelo ralo voltou, pois ao trocar de canal na TV, vitrine viu propaganda do carro que tinha peça vrum vrum, e viu no noticiário o trânsito causado pela chuva, lembrou da goteira gluk, pegou o controle apavorado desligou.
Respirou fundo dormiu, passada algumas horas acordou assustado pensou estar atrasado so que hoje era sábado, e o cotidiano que na semana com ele era lado a lado, em sua mente um bilhete deixou, e assim dizia: Bom dia Gustavo hoje de folga estou, bom final de semana, até segunda.
Assinado: Cotidiano.
Por Gustavo Arranjus – Poeta poeta slamer, escritor, cantor. Nascido e criado na região do bairro Grajaú, SP. Neto de quilombolas. Ganhador do prêmio poetize novos poetas de 2019 pela editora poetize. Descobri a poesia desde muito cedo na minha infância nas ruas do bairro do Grajaú sempre fui envolvido com a arte desde muito cedo, aos 8 já gostava de atuar na área teatral do centro educacional conhecido como circo escola e entre as pausas sempre fazia versos e poesias. Há menos de um ano exatamente há 4 meses comecei a participar de competições de poesias os famosos slams espalhados pela cidade de sp. Já participava de sarau mas esse universo é muito amplo hoje vejo pessoas declamando e sinto a necessidade de passar uma mensagem de alívio conforto paz amor de resistência.
0 Comentários