Antônio Justino, o querido camarada Tonhão, faleceu na madrugada desta quinta-feira. Tonhão foi um grande professor de língua portuguesa, e sobretudo mais um lutador contra as injustiças e a miséria deste mundo em que vivemos. Participou da fundação do PT e da APEOESP, sindicato da categoria de professores a qual fez parte durante toda sua vida, mesmo depois de demitido. Foi vice-prefeito de Diadema e, mesmo ocupando um cargo na burocracia, nunca deixou seu espírito combativo se corromper, organizando greves, ocupações, apoiando as lutas nos territórios, e por isso foi demitido e expulso do partido.
Sua radicalidade estava no ato de nunca abaixar a cabeça para o sistema, ele foi um lutador muito coerente que sempre lutou e se opôs ao partido que ajudou a fundar, e à direção burocrática da APEOESP. A primeira vez que ouvi falar sobre essa grande figura humana foi em 2013, quando descobri a sua participação na greve dos professores em 2003, na qual Tonhão colocou seu corpo sobre Covas o empurrando em frente a secretaria da educação em São Paulo, num ato de rebeldia contra aquela figura de poder que representava o massacre da categoria e de diversas vidas, que se esvaziam nos hospitais, nos presídios, e nas periferias.
Em 2015, tive o prazer de conhecer esse guerreiro que tanto ouvi falar, fui o responsável por recebê-lo na primeira aula pública em frente a escola ocupada Fernão Dias. Não acreditei que iria conhecê-lo. Depois de alguns dias ele voltou na ocupação, já não mais cercada pelos PMs, e pediu que eu apresentasse o espaço pra ele, eu o segurei no braço e ajudei subir as escadas. Foi aí que começou uma grande aula e muitas trocas. Aprendi muito sobre as lutas históricas de tempos em que eu nem imaginava nascer. Inocentemente, perguntei a ele “se era anarquista, comunista, ou sei lá” e, ele ironicamente me respondeu que era “Saramaguiano”. Não teve como não rir, eu nem sabia direito quem era Saramago, até busquei conhecer mais sobre depois.
Daí em diante sempre o encontrei por aí , nas próprias ocupações e no Fernão. No dia do ato em apoio às escolas ocupadas, mesmo doente em recuperação de um câncer, Tonhão, mancando, esteve presente no ato com um guarda-chuva para se proteger do temporal daquele dia, e uma câmera na mão. Eu, preocupado, disse pra ele não ficar muito por ali porque a repressão era certa, e ele, sorrindo, me disse que o deixava feliz ver a juventude lutando, e precisava ver e registrar aquilo antes de partir.
Fiquei e fico muito emocionado e feliz de saber que, como parte dessa juventude, também era uma inspiração para uma pessoa que era o mesmo para mim, que admirava e admiro tanto. Comprei o seu livro que ele disse que fez pensando na “juventude”, e disse que queria que assinasse, mas infelizmente isso não aconteceu. Tonhão foi um exemplo daqueles que não se venderam, que foram coerentes na luta aprendendo com seus erros, e sempre se colocando a repensar. Rompeu com o PT, fez oposição a APEOESP, sempre foi solidário ao seu povo, e mesmo depois de demitido continuou vivendo da venda dos seus DVDs, com a solidariedade de centenas e milhares de amigos.
Sua morte é fruto do descaso de um Estado genocida, com um sistema de saúde igualmente genocida, que negou o devido atendimento ao companheiro e, que durante sua vida fez de tudo para desmotivá-lo e destruí-lo. Ainda assim, Tonhão foi muito forte e resistiu durante anos a sua doença mesmo sem os devidos recursos, resistiu contra as forças do capital que tentavam esmagá-lo a todo momento.
Por você apenas tenho admiração, aprendizado e, mesmo sem te conhecer muito, tenho carinho por a pessoa que você foi e é. O único ódio que guardo é contra esse estado genocida, espero que esse ódio presente em todos nós seja o combustível para queimar e destruir tudo o que ele representa, e assim livrar nosso povo dessa miséria e dessa dor.
Por Seixas – Um jovem que segue na luta que tantos outros queridos companheiros iniciaram.
4 Comentários
Incrível relato! Tonhão e o Movimento Secundarista! Dois grandes exemplos de como nossa linha do tempo permanece ligada a conexões de uma utopia que nos faz ter alegria de viver , mesmo em um Estado Genocida e Capitalista. A Solidariedade de Classe contra a cagueira branca de Saramago nos une a cada dia.
Esses exemplos nos fortalecem. A sementecfoi plantada. Tonhao presente, sempre!!!
Tonhão também marcou a minha militância, que começou mais de uma década antes da sua. Nunca poderão nos deter, somos força que luta pela vida, pela justiça social. Camarada Tonhão presente, agora e sempre.
Muchas gracias por este relato…es muy valioso que contemos nuestras propias historias de lucha y resistencia.
Conmovedor ✊💕