Analisando o nível absurdo de repressão que foi aplicada nas manifestações do Movimento Passe Livre contra o aumento da tarifa fica clara a intenção do governo e da polícia: Defender a qualquer custo o capital mesmo que isso signifique machucar as pessoas.
Eu, particularmente, depois de passar mais de nove horas na delegacia acompanhando as pessoas que foram detidas na primeira manifestação, sai de lá extremamente revoltado. Como é possível? A polícia arbitrariamente e de forma totalmente ilegal agiu para impedir, reprimir e atacar violentamente a população que estava fazendo uma manifestação pacífica, sem ter andado sequer 1 km.
E então eu lembro que nada disso é por acaso, tudo faz parte da lógica capitalista e entender isso é preciso para que possamos ter ciência do momento em que vivemos de aprofundamento da exploração no Brasil.
Nunca houve de fato um governo de esquerda no Brasil, todos os que estiveram a frente do Estado brasileiro de uma forma ou de outra se preocuparam somente com o lucro. Entretanto, nos últimos anos se tornou ainda mais forte por parte das elites e dos governantes uma necessidade aberta e escancarada de se defender o lucro e a liberdade econômica dos empresários nos explorarem. Porém, essa liberdade não se da sem conflitos, pois toda vez que se aumenta a tarifa, por exemplo, para aumentar o lucro dos empresários do transporte, isso imediatamente prejudica todos os usuários do transporte, principalmente as camadas mais pobres da população. Ou então, toda vez em que se retiram direitos trabalhistas para “ajudar” o patrão (pois como disse o então presidente Jair Bolsonaro com concordância de Covas, Witzel, Amoedo e toda corja de neoliberais deste país, “é difícil ser empresário no Brasil”), toda vez que se agrada a elite imediatamente se prejudicam os trabalhadores mais pobres. E quando o povo percebe isso e consegue entender que a única solução para enfrentar todos estes ataques do Estado é ir à luta, se depara com algo que se não fosse usado não seria possível garantir o modelo econômico neoliberal: A violência do Estado.
A repressão a tudo e todos que se oponham aos ataques do Estado e da burguesia é imediata e cada vez mais brutal.
E quando dizemos que esse repressão é brutal nós não estamos falando só de pequenos machucados e prisões temporárias, estamos falando de mortes. Vale lembrar que o Governador João Dória é responsável por ao menos nove mortes quando recentemente ordenou a repressão ao baile funk da Dz7 na favela de Paraisópolis, mostrando que criminoso e violento é o Estado que ataca tudo que não abaixa a cabeça para ele. E o mais revoltante de tudo isso é saber que aqueles jovens tinham idades tão parecidas com a minha, poderia ser eu, poderia ser você que está lendo esse texto e mesmo assim nossas vidas valeriam quase nada. Qualquer um de nós que não faça parte da burguesia está sujeito a sofrer e ser morto nas mãos do Estado.
E por mais que o massacre de Paraisópolis tenha causado comoção em muitas pessoas, o movimento de indignação foi pequeno e insuficiente, tanto que causou pouco desgaste político na imagem do assassino João Dória, afinal, ele ainda se sente encorajado a continuar reprimindo de forma violenta e criminosa qualquer manifestação popular.
Uma das expressões da censura que João Dória promove no Estado de São Paulo é o Decreto Dita-Dória que é um ataque direto contra a liberdade de manifestação, o que por si só é uma contradição. Afinal, liberais não deveriam defender a liberdade? Erro comum pensar assim pois a única liberdade que eles defendem é a de poder reprimir, matar e explorar a classe trabalhadora.
Porém, se João Dória, Bruno Covas, Jair Bolsonaro, Sergio Moro e Witzel acham que vão nos calar reprimindo as manifestações eles estão enganados. Nós estamos bancando a disputa pois todo mundo tem um lado. Enquanto eles defendem o capitalismo, nós estamos do lado da classe trabalhadora, e o capitalismo? Que morra.
É duro pensar que logo na primeira manifestação do ano de 2020 cerca de 30 pessoas foram detidas, dentre elas um jornalista. Nem nas minhas piores previsões de repressão eu imaginaria uma quantidade tão grande de prisões.
Outra situação que Dória é responsável quando ocorre, quando ele assume publicamente que é adequado o comportamento da polícia, quando esta assedia sexualmente uma manifestante, enquanto lhe aplica um “mata-leão”, é a perpetuação das lógicas machistas e misóginas do militarismo. Quando ele faz isso, apoia publicamente e legitima esse tipo de ação, Dória é a expressão do atual momento do capitalismo: Autoritário, sanguinário e destruidor.
Enquanto o governador playboy só anda de helicóptero e avião, a maior parte da população se espreme no transporte público lotado, que o governador faz questão de tornar ainda mais degradado e excludente. Enquanto ele acessa empréstimos com taxas de juros subsidiadas do BNDES para que paguem seu avião, a população pobre tem que sofrer todos os anos com mais e mais aumentos na tarifa, enquanto isso a situação do transporte só piora, com cortes de linhas e aumento da violência de seguranças contra vendedores ambulantes ou contra aqueles que não conseguem pagar a tarifa.
Toda vez que se aumenta a tarifa, além de aumentar os lucros dos empresários tirando mais dinheiro do bolso do trabalhador, também se intensifica a exclusão. A cidade só existe para quem pode circular nela, afinal, mesmo que algum serviço ou atividade seja gratuito, chegar até lá não é, e a existência de tarifa pelo transporte um dos principais fatores que afasta a população pobre e periférica de ter acesso a cultura, lazer, diversão, trabalho, saúde e educação.
O aumento da tarifa não se dá por falta de dinheiro para sustentar o transporte, a receita da prefeitura tem aumentado e mesmo assim o prefeito diminui os subsídios do transporte. Além disso, se o dinheiro fosse assim tão escasso, por qual razão o governo prefere gastar valores exorbitantes pagando adicionais de salário que as centenas de policias mobilizados para reprimir recebem, com custos adicionais de armas, bombas, spray, balas de borracha, equipamentos de proteção, automóveis, gasolinas e afins para a polícia e sua tropa de choque reprima as pessoas por horas na manifestação? Não há duvidas que o valor gasto com a repressão é mais caro do que o valor das passagens que não seriam arrecadadas por liberar as catracas por 30 minutos para permitir que as pessoas possam sair dessa mesma manifestação seguras. Na realidade só o prejuízo econômico que é gerado pela polícia ao fechar a estação e a rua para a manifestação não passar por horas, como foi feito nos últimos atos, alcança valores muito superiores do que o catracaço poderia alcançar.
A verdade é que aumentar a tarifa é uma escolha política, uma escolha que visa a exclusão dos mais pobres e periféricos, o gasto absurdo com a repressão escancara a monstruosidade da mentalidade capitalista, que quer continuar a concentrar os lucros nas mãos de poucos a qualquer custo.
Mais do que nunca é preciso entender que violenta é a tarifa e que o verdadeiro terrorista é o Estado. É preciso deixar avisado que não sairemos das ruas, não deixaremos de lutar, enquanto não acabarmos com as tarifas, as prisões, a polícia militar e com o capitalismo não deixaremos de lutar, afinal, só a luta muda a vida!
Por Marcus Nascimento
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