A atual pandemia tem se manifestado junto com uma profunda crise econômica e um acirramento dos conflitos sociais em diferentes esferas, como no cárcere, nas periferias, assim como nos locais de trabalho. O texto a seguir é uma compilação de registros de diferentes greves e protestos de trabalhadores no Brasil e em outros lugares do mundo contra os efeitos da pandemia a partir dos locais de trabalho.
Trabalhadores se mobilizam por saúde e prevenção durante a pandemia:

Talvez o setor a ter chamado mais atenção por fazer paralisações reivindicando a quarentena no Brasil seja o do Telemarketing, por ser uma categoria nova, de maioria terceirizada, com pouca tradição de luta e organização, com sindicatos pelegos e de fachada, sendo uma categoria especialmente exposta ao contágio por seu local de trabalho se dar com aglomerações de pessoas em edifícios. Essa realidade tem feito os atendentes de telemarketing promoverem durante a pandemia uma mobilização com protestos e greves selvagens (quando ocorrem por fora das burocracia sindicais) por todo o Brasil (leia aqui). A mobilização por mais que tenha gerado algumas medidas de prevenção em algumas empresas, foi reprimida com uma resolução do governo de que telemarketing seria um serviço essencial e por isso não poderia parar, sendo que em realidade não deveria ser considerado um serviço essencial. As páginas Disk Revolta e Invisíveis tem postados importantes vídeos, relatos e denúncias dos trabalhadores mobilizados ( veja aqui , aqui e aqui ). Em Portugal também há registro de greve de trabalhadores de telemarketing pelo direito a fazer quarentena (leia aqui). Em Barcelona na Espanha uma atendente de 36 anos morreu contaminada por coronavírus, o que também tem gerado revolta por la.
Outro setor que chamou uma greve da maior importância pelo direito de quarentena remunerada é a dos metalúrgicos de São José dos Campos, apesar de parte dos capitalistas do setor industrial estarem se posicionando ativamente contra a quarentena e tentando manter seu funcionamento normal (leia aqui).

Existem outros setores que anunciaram greve por quarentena como a construção civil de Belém (leia aqui) e os motoboys do Acre por condições de higiene (leia aqui).
Os trabalhadores da saúde também tem denunciado e protestado em diversos Estados do Brasil por conta da falta de condições mínimas de higiene e proteção contra o coronavírus (Denuncias: aqui, aqui Protestos: aqui, aqui e aqui)

Diversas categorias ameaçaram greve reivindicando medidas de prevenção a epidemia, como os trabalhadores do porto de Santos em SP (leia aqui), os metroviários de BH (leia aqui), os petroleiros (leia aqui), os trabalhadores da fábricas de celulares da Samsumg de Campinas (leia aqui) e os sindicatos dos trabalhadores comerciários de Cachoeiro de Itapemirim (leia aqui).
As principais centrais sindicais (CUT, CTB, Força Sindical e CGT) não tem tido um posicionamento político enfático em relação a atual crise, seus principais sindicatos tem se limitado a realizar pressões pontuais para que funcionários em grupo de risco sejam afastados em algumas categorias, ou que medidas sejam tomadas em locais de trabalho que permanecerem abertos com pessoas doentes em bases importantes, também tem disponibilizado parte do seu aparato para medidas assistencialistas de solidariedade ou de reforço ao serviço médico durante a pandemia. Os burocratas que controlam as centrais tem sido complacentes (ou cúmplices?) do massacre anunciado de trabalhadores, a convulsão social que se anuncia com o aprofundamento da atual crise terá nas centrais uma de suas barreiras.
Por isso é fundamental que apoiemos essas lutas dos trabalhadores, fortalecendo redes de apoio e informação. Não é o momento de tentarmos realizar ações irresponsáveis que possam nos colocar como fatores de aumento de contágio, porém, precisamos ser capazes de nos articular na medida do possível, pois somente a solidariedade e a auto organização dos de baixo poderá reduzir danos entre os nossos, conquistando condições de alimentação, saúde e proteção para o maior número possível de trabalhadores ou desempregados.
Em outros países também tem acontecido mobilizações de trabalhadores por quarentena e por medidas de sobrevivência durante a epidemia, na Itália ocorreu um surto de greves selvagens em fábricas (leia aqui) e uma greve geral foi convocada no dia 25/03 (leia aqui). Nos EUA funcionários da Amazon e entregadores também entraram em greve por medidas de proteção (leia aqui ). Na Espanha o Sindicato de Inquilinos convocou uma greve de alugueis (leia aqui). Alguns sites internacionais, como esse site alemão de solidariedade contra o coronavírus, “solidarisch gegen corona” e esse artigo em inglês da “Tendência Comunista Internacionalista” (que podem ser lido em português usando o google tradutor), fazem tentativas de compilação de noticiais de todo o globo com registros de greves, protestos, saques, rebeliões e diferentes mobilizações motivadas pela epidemia do coronavírus em países dos cinco continentes.

A quarentena como paralisação dos capitalistas para redução de danos:
Para além dessas greves e protestos, a própria quarentena tem acontecido de cima pra baixo como uma decisão das classes dominantes justificada como forma de reduzir as perdas de lucros durante a pandemia. Nesse sentido, a quarentena tem sido feita como uma forma de preservar a mão de obra mais qualificada ou de setores com alto risco de serem catalisadores do contágio em geral (caso do comércio), assim como preservar minimamente a ordem social num contexto de profunda crise e recessão global, mas ainda pouco se preocupando em proteger os setores mais precarizados ou de trabalhadores informais, que seguem trabalhando normalmente, se expondo ao contágio e ao risco de vida.
É ilustrativo nesse sentido locais de trabalho em que a gerência e a maioria dos funcionários diretos tem sido liberados para o home office, enquanto setores terceirizados, como segurança, limpeza e atendimento, seguem trabalhando em regime normal. Essa cena tem sido comum em universidades e edifícios empresariais.
A grande paralisação de fábricas e diminuição da produção no Brasil que é anunciado pelas classes dominantes como medida de quarentena, também é fruto da queda da demanda nacional e internacional, assim como da falta de insumos industriais por conta da quarentena na China (Nas seguintes notícias você pode ver uma cobertura sobre a diminuição da produção: aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui). Essa paralisação patronal talvez já possa ser considerada de um impacto maior na produção do que a de qualquer outra crise que o Brasil já teve antes.
Ainda assim se prevê centenas de milhares de mortes em todo o mundo que poderiam ser facilmente evitáveis se não vivêssemos em um sistema que prioriza os lucros a qualquer custo em detrimento da vida.
Evidentemente essa grande paralisação patronal que é a quarentena causa um acirramentos dos conflitos nos locais de trabalho devido a cortes de salários, corte de direitos e demissões. Fatores como a alta magnitude das demissões, o aumento da miséria social e o efeito do colapso do sistema de saúde que se acredita que a pandemia irá causar nas próximas semanas ainda irão definir a forma como esses conflitos irão se expressar.

Bolsonaro e setores do empresariado contra a quarentena:
O posicionamento explícito de alguns empresários contra a quarentena reforça ainda mais como não é metafórico quando dizemos que a burguesia brasileira mantém formas escravocratas, onde a vida de seus subordinadas é um bem facilmente descartável em nome de lucros de curto prazo.
Apesar do aparente isolamento político de Bolsonaro ao se posicionar abertamente contra a quarentena (que ainda assim provocou afrouxamento da quarentena em algumas regiões ) e de minimizar o massacre que sua atitude irá provocar. Setores do empresariado continuam apoiando explicitamente o posicionamento genocida do presidente, além de sua já conhecida base pequeno burguesa ou lumpenburguesa que saiu em carreata, também a Confederação Nacional Das Indústrias e o bilionário Abílio Diniz declararam abertamente apoio ao fim da quarentena (matérias sobre empresários contra a quarentena podem ser lidas: aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui)
Apesar da postura genocida de Bolsonaro, ele consegue manter sua base social relativamente sólida na casa dos 30% de aprovação a suas posturas em relação a pandemia. Nas próximas semanas com o aprofundamento das consequências da pandemia em termos de números de mortes veremos qual será o impacto nesse cenário assim como no acirramento dos conflitos nos locais de trabalho.
Por Gabriel Silva.
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