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01 dez 2020

As Filipinas e a luta anticolonial internacional.

Boa tarde e saudação a todos nós reunidos aqui para marcar a celebração do Mês Anticolonial Berlim. Nós dos coletivos Gabriela Germany e Migrant Europe estamos muito felizes e honradas de ter esse espaço e tempo nesse evento tão significativo.

As Filipinas, como muitos outros países em desenvolvimento do Hemisfério Sul, é rica em recursos naturais, mas as pessoas são pobres. Esta é a contradição marcante que assola a sociedade filipina.  Temos depósitos de minérios, águas, montanhas e florestas repletas de vida e variedade, e terras agrícolas férteis e vastas.  

A partir de 1521, os espanhóis vieram e colonizaram as Filipinas. Eles trouxeram consigo, entre outros, o ainda existente sistema de propriedade secular, o feudalismo, no qual centenas de hectares de terra pertencem a poucos proprietários, e a maioria dos camponeses permanecem sem terra e pobres. Estas condições são preservadas pela interferência de interesses estrangeiros. Produtos excedentes e capital estão sendo despejados no país, matando assim qualquer indústria local e perpetuando a dependência de produtos importados. Tal invasão é possível graças às políticas neoliberais que o governo do país está mais do que disposto a implementar. Portanto, a economia continua dependente da importação e orientada para a exportação. Importamos até mesmo as commodities mais básicas e exportamos matérias primas e trabalhadores! É nestas condições, o velho sistema feudal, com a imposição da dominação estrangeira, que conduz o povo filipino a uma pobreza extrema e a uma crise crônica.

Entre as “commodities” que o país exporta está uma enorme força de trabalho. Nos anos 80, ela foi transformada em política, a chamada LEP (Política de Exportação de Trabalho). Esta política não só facilita o movimento diaspórico dos filipinos para fora do país em busca de emprego e melhores condições de vida, mas também custa aos filipinos outras repercussões sociais, tais como o desmembramento de famílias devido à distância. Há cerca de 10 milhões (documentados) de filipinos fora do país, a maioria são trabalhadores filipinos no exterior.  Um número significativo trabalha em hospitais, casas de repouso, casas particulares, fábricas, e na indústria marítima. Em alguns estudos, quando incluímos os sem documentação, os números chegam a dobrar.

Mas os trabalhadores migrantes, quando chegam a seus países de destino, se encontram em condições precárias e desfavoráveis. Aqui na Alemanha, a narrativa de que os migrantes estão vindo aqui para roubar os empregos do povo alemão é continuamente popularizada. E isto acontece em muitos outros países da Europa. Como a Pandemia de Covid19 continua a devastar, tais narrativas são agravadas pela marca de nós migrantes como portadores da doença, enquanto paradoxalmente, somos nós migrantes e muitas pessoas de cor que somos mais vulneráveis enquanto continuamos a trabalhar nas chamadas linhas de frente, os empregos relevantes do sistema que os países anfitriões tão terrivelmente necessitam.

O que muitas pessoas aqui na Europa não conseguem ver são as verdadeiras razões pelas quais as pessoas migram. Grandes empresas capitalistas monopolistas continuam a despejar o capital excedente para os países em desenvolvimento, destruindo assim as indústrias locais desses países e sua eventual chance de industrialização e desenvolvimento nacional. Continuam a espremer o sangue e o suor dos trabalhadores para obter seus super lucro, e concentrar a riqueza nas mãos de poucos, no processo também destruindo o meio ambiente em uma escala e uma proporção sem precedentes, as pessoas são agora FORÇADAS a Migrar! Pois mais e mais pessoas desses países mergulham na pobreza.  

A última etapa do capitalismo monopolista que é o imperialismo criou guerras de agressão que deslocaram milhões de pessoas, em grande parte dos países em desenvolvimento. A partir de 2017, de acordo com dados da ONU, houve um recorde de 68,5 milhões de pessoas deslocadas forçadamente por causa de guerras e violência! Isto é mais do que a população da Itália (60,59 milhões), e da França (66,9 milhões). A atual ditadura brutal do presidente das Filipinas, Duterte, continua abusando e violando os direitos sindicais e as liberdades civis. Há 5 milhões de trabalhadores agrícolas nas Filipinas que não possuem suas terras e ganham 2,5 euros/dia! Esse é o custo de um Kebab em Neukoelln! Trabalhadores que estavam em protestos ou negociações para afirmar seus direitos trabalhistas foram recebidos com balas, sequestros, assédios e ameaças!  

À medida que os efeitos da mudança climática pioram, mais e mais pessoas serão também forçadas a deixar suas casas.  Em 2018, eventos climáticos extremos como a seca severa no Afeganistão, o ciclone tropical Gita em Samoa e as inundações nas Filipinas, resultaram em necessidades humanitárias agudas. De acordo com o Centro de Monitoramento de Deslocamentos Internos, houve 18,8 milhões de novos deslocamentos internos relacionados a desastres registrados em 2017.  

Estas três razões principais; pobreza, guerra e mudança climática estão forçando as pessoas a migrar. E o que alimenta estas condições para existir e até piorar é a ganância imperialista e o saque! Fica então claro que nós, trabalhadores, independentemente de sermos migrantes ou locais, sofremos com as mesmas políticas neoliberais e anti trabalhistas que os grandes capitalistas nos impuseram, e em conivência com as elites governantes locais nos países em desenvolvimento, como as Filipinas. Gostaríamos também de aproveitar esta oportunidade para pedir seu apoio ao povo filipino ao exigir a destituição de Duterte, um governante brutal, corrupto, fascista e enganoso. Que este mês Anticolonial seja um momento para condenar e pedir a expulsão de todos os governantes fascistas do mundo de hoje. Aproveitemos também esta oportunidade para ter um momento de silêncio em honra e comemoração de uma companheira nossa, Zara Alvarez, que esteve conosco no ano passado, no primeiro Mês anticolonial. Em agosto passado, ela foi brutalmente assassinada. Seu único “pecado” foi falar a verdade e lutar por uma sociedade melhor.

Nesta crise cada vez mais grave do sistema capitalista, não deixemos mais a classe dominante nos dividir com cor, sexo, língua, idade, trabalho e assim por diante. Nós pedimos e desafiamos a todos que estão aqui hoje que tenham coragem, paciência e dedicação para entender as causas de nossos problemas e por que nós, trabalhadores, temos necessariamente que lutar. Definitivamente, temos lutas particulares, mas com certeza há pontos em comum. Nós nos unimos nestas semelhanças e somos uma força mais forte na luta e na construção de um mundo pelo qual todos aspiramos – um mundo justo, humano e pacífico.  

Abaixo o Imperialismo!

Viva a solidariedade internacional!  

O povo unido jamais será vencido!

Foto de um protesto contra as execuções extra judiciais em Manila, Filipinas em dezembro de 2019.

Fala do coletivo Gabriela Germany, Migrante Europe.’

O dia em que começou a resistência na América Latina foi um ato organizado por diversos coletivos latino americanos, incluindo militantes do Quilombo Invisível, no dia 12/10/2020, data celebrada pela chegada de Colombo na América. O ato também marcou o início do segundo mês anticolonial de Berlim, no qual diversos coletivos de imigrantes organizam eventos e debates em torno do tema.

Achamos importante traduzir e publicar esse discurso pois ele dialoga muito concretamente com a perspectiva de construção de laços internacionais na luta contra o capitalismo. No caso particular das Filipinas, o país localizado num arquipélago no sudeste ásiatico tem muitas semelhanças com o Brasil. O seu atual presidente, Rodrigo Duterte, é considerado como um irmão de Bolsonaro pela sua truculência e apologia extrema à violência do Estado em nome da chamada “guerra às drogas”, usada como disfarce para uma brutal guerra aos pobres e uma repressão assassina aos que lutam.

Bolsonaro e Duterte.

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