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18 abr 2021

Greve na Vikstar e denuncia de uma atendente

A empresa de call center Vikstar atrasou o salário desde março dos seus funcionários. Com operações em Teresina (Piauí), São Paulo e Votuporanga (SP), e Londrina (PR), a empresa tem cerca de 8 mil empregados que foram prejudicados. Os trabalhadores não aceitaram passivamente essa situação, entrando em greve selvagem, como foi o caso em São Paulo em que os trabalhadores tiveram que se posicionar sem apoio oficial do sindicato, ou formalizada como no Piauí, em que a maioria dos 2,4 mil trabalhadores do call center realizaram uma greve na semana passada. 

A pressão dos trabalhadores funcionou e a empresa regularizou o pagamento dos salários atrasados. Porém, a empresa continua desrespeitando a vida dos trabalhadores expostos na pandemia e os funcionários seguem apreensivos com a possibilidade de demissão em massa devido ao fim do contrato da empresa com a Vivo e de não terem seus direitos trabalhistas respeitados numa possível demissão. Assim, eles precisam se organizar e lutar para garanti-los.

Realizamos essa entrevista com uma funcionária da Vikstar, em solidariedade aos nossos amigos atendentes em luta pelos seus direitos. Na entrevista é exposta a situação pela qual passaram os funcionários da empresa durante essa greve e suas condições de trabalho, o nome da funcionária foi mantido anônimo para evitar a perseguição por parte da empresa.

Você pode se apresentar brevemente?

Eu trabalho hoje na Vikstar que é uma empresa de call center, onde eu atuo vendendo planos de telefone da operadora Vivo.

O que está acontecendo nesse momento na Vikstar?

O que aconteceu nos últimos dias foi justamente que o pagamento do nosso salário que era feito até o quinto dia útil, em março, não foi feito na data correta em que era prevista.

Como os funcionários da empresa responderam?

Como já é de costume quando a empresa deixa de pagar algum tipo de benefício para os trabalhadores, nós mesmos acabamos se organizando pelos grupos de WhatsApp, que hoje são nossa principal forma de organização. Quando aconteceu de o salário não cair na data certa, a gente combinou de paralisar as atividades no dia seguinte, essa foi a forma de se manifestar contra tudo isso que vem acontecendo, que é um descumprimento contratual por parte da empresa de não pagar nosso salário. Então é feita a paralisação em que a gente vai para o trabalho, bate o nosso ponto, mas se recusa a realizar o atendimento que a gente faz, então a gente fica de pausa lá dentro durante o expediente.

Desde então estamos tentando saber qual seria o posicionamento ou a razão que fez com que a Vikstar deixasse de pagar o nosso salário, né? Eles inicialmente disseram que a Vivo não tinha pago o valor necessário para fazer o repasse dos nossos benefícios, o que é uma coisa que a Vivo desmente, ela anunciou que na verdade foi feito sim pagamento e ainda foi feita de maneira antecipada. Mas de lá para cá saíram algumas notícias tanto pela Folha de Londrina como também pela Folha de São Paulo dizendo que o contrato de prestação de serviços entre a Vivo e a Vikstar havia sido interrompido desde o dia 18 de Março. E pensando o contexto da Vikstar hoje que é uma empresa que atua nacionalmente, com operações no nordeste, no Piauí, no sul, no Paraná, e também sudeste, em São Paulo, que é onde eu trabalho, em Itaquera, em todas essas operações hoje a Vivo corresponde a principal cliente mesmo, a cliente que mantém a empresa de portas abertas porque 95% da Vikstar hoje são produtos da VIVO.

Mesmo assim, quando era questionada ainda a razão de não ter sido pago o salário para gerência ou RH, não era dito de forma clara o que estava acontecendo, né? Depois dessa tentativa de se esquivar da culpa dizendo que a Vivo não tinha pagado, ainda assim continuaram dizendo que estavam se reunindo com os superiores para saberem o que tava acontecendo, de forma que ficamos sem nenhuma informação objetiva para saber o que seria da gente no futuro, né? E com essas notícias a gente começou a ter muito medo também sobre a própria continuidade da Vikstar e se a gente ia continuar com nosso emprego depois desse contexto né, então não é só para mim temer pelo salário mas também também temer pelo próprio emprego.

Vocês têm tido apoio do sindicato?

Na segunda-feira também chegou a notícia de que o Sinttel, que é o sindicato da unidade do Piauí havia aprovado paralisação geral da atividade, então foi aprovada greve, os trabalhadores já não tinham mais que ir até a empresa, então foi concebido de maneira institucional aprovar a paralisação. Coisa que aqui em São Paulo infelizmente não aconteceu, desde o começo embora essa decisão e essa troca de ideias sobre a paralisação tenha sido coletivamente feita nos grupos, ainda assim na prática era uma decisão ainda mais individual, por que os funcionários se dividiram entre aqueles que de fato aderiram à paralisação e não atendiam e aqueles que continuaram a atender, por diversos motivos, mas o principal seria o medo e o receio de demissão. Ainda mais nesse contexto em que a Vikstar fez novas contratações nos últimos meses. Muitos ainda não passaram nem pelo período de experiência.

E aqui em São Paulo o Sindicato responsável pela Unidade que é o Sintratel desde o começo teve uma maneira de agir muito afastada, que era uma maneira de agir judicialmente, por meio de caminhos institucionais, mas não nos escutando de fato para saber quais eram nossas demandas mesmo, sabe? Se a gente queria ou não paralisar como estava acontecendo no Piauí. Então, desde o começo a nossa expectativa quando já chegaram as notícias de que o Piauí estava paralisado mesmo, era de a gente também paralisar. Ainda Ontem (13/04) à noite aconteceu uma reunião com o sindicato em que dentre as questões que foram discutidas uma delas foi aprovação de um estado de greve em que 60% do nosso salário tem que ser pago ainda ontem e caso não fosse pago ainda hoje, a quitação de 40% restantes, aí sim  seriam tomadas as devidas providências para a greve em que de fato as atividades serão totalmente paralisadas.

Ainda hoje (14/04) essa quitação de 40% deve acontecer para todos os funcionários, então vai ser pago completamente. O pagamento desse salário o sindicato tá acompanhando, e nós que estamos trabalhando também estamos acompanhando, pra ver se de fato vai ser todo mundo pago mesmo.

Como estão as condições de trabalho durante a pandemia?

As condições de trabalho nessa pandemia tem sido no mínimo desafiadoras pensando justamente que a Vikstar é uma empresa de grande porte, então deveriam ser tomadas medidas que iriam além do distanciamento mínimo entre as PAs, ou sobre a disponibilidade de álcool em gel ou do uso de máscara, mas também mudassem a própria questão da organização do nosso trabalho mesmo, né? Considerando que são mais de mil pessoas que vão diariamente para lá, e as pessoas pegam transporte público, as pessoas depois voltam para casa, tem contato com os familiares, e etc, então medidas como essa de apenas garantir o distanciamento mínimo entre as PAs acabam sendo totalmente falhas. Ainda mais pensando que é na própria empresa também o espaço de contágio, por exemplo, os espaços de convivência são muito pequenos, onde temos que passar o nosso período de lanche ou de almoço ali na Vikstar. Mesmo em condições normais, as pessoas têm dias que tem que almoçar em pé porque o espaço é pequeno e não tem cadeiras para todo mundo. Então é necessário medidas muito mais amplas para impedir a propagação do vírus realmente, ne?  

Tem outros problemas no trabalho?

A empresa não só atrasa o pagamento do nosso salário, mas também no ano passado a segunda parcela do décimo terceiro também foi paga atrasada e sem sequer uma informação objetiva sobre a motivação. Outro problema que se repete é que o pagamento dos nossos benefícios como vale transporte, vale refeição e vale alimentação é feito de maneira desorganizada que nos prejudica. Esses benefícios não são pagos de maneira integral, e sim de forma parcelada durante o mês, de acordo com o calendário que eles mesmos constroem, então esses benefícios podem ser pagos a cada uma semana, a cada duas semanas, ou a cada 3 ou 4 dias, e ocorre por isso que tem dia que falta esse vale transporte para gente vir trabalhar, a gente e os nossos colegas tem que pagar do próprio bolso por que não foi pago no dia correto. Então isso já aconteceu também diversas vezes, assim como também tem diversas queixas de pessoas que não fazem mais parte do quadro de funcionários da Vikstar e até hoje não receberam o valor da rescisão do contrato de trabalho, então existe um histórico aí de atraso no pagamento de benefícios desde ano passado ou retrasado.

Nos últimos tempos também surgiu uma gravação feita por alguns trabalhadores da Vikstar que mostra no nosso ambiente de trabalho uma cobra, assim como também mostram larvas de mosquito na água do bebedouro. Então essas são também questões básicas que acabam colocando a nossa saúde em cheque.

2 Comentários

  • Julio condaque disse:

    Todo apoio à essas trabalhadoras e trabalhadores telemarkts que estão sem salários desde março e não podem tratar esses trab. Como escravos !

  • Lia disse:

    Eu trabalhei lá seu o inferno que eu vivi e no final eles não pagaram e fazia pressão contando as pausas até cronometrando, aquilo era tortura um dia passei mal e meu supervisor venho gritando comigo, sair bem antes não suportei mais pressão moral sem falar que os clientes só ligam xingando achando que eu sou dona da vivo, telemarketing nunca mais.

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