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20 nov 2021

Cortejo artístico no Grajaú contra a homofobia e o genocídio

Em outubro deste ano, o ator Israel de Lima Barbosa foi covardemente espancado por 4 homens armados de pedaços de madeiras maciças e facas na primeira balsa, no distrito do Grajaú, periferia do extremo sul de São Paulo, a motivação do atentado foi a homofobia. O ator negro da periferia que há anos luta para viver do seu ofício,  corajoso, não deixou essa violência sem resposta e procurou coletivos da região para organizar uma ação política contra a homofobia e em homenagem a tantas outras vítimas de violências na região. Assim, encontrou como aliada a Rede de Proteção Contra o Genocídio e organizou, no dia 14 de novembro de 2021, um cortejo no Centro Cultural Grajaú e na primeira balsa, contra a homofobia e o genocídio. A ação incluiu oficina de grafite e stencil, a presença do cantor Élio Camalle que se apresentou e performances teatrais do próprio Israel.

A luta pela vida é também uma luta pela memória dos nossos mortos.

O cortejo artístico contra a homofobia e o genocídio, além de pautar o atentado contra o ator, pautou a omissao do governo na pandemia, denunciou outros casos de violencia mortal na região motivados pelo mesmo machismo e racismo que Israel sofreu, como o assassinato de uma jovem de 22 anos no mesmo bairro. Lembrou também de Lucas Custódio dos Santos, o Dudinha, jovem negro de 16 anos, assassinado pela polícia militar por volta das 14h do dia 27/04/2015 em um terreno baldio perto de sua casa na Favela do Sucupira. Outro homenageado foi Matheus Freitas, tinha 24 anos, estudante universitário, baleado por um policial militar na noite do sábado, 01/10/2016, na quadra da Escola Estadual Tancredo Neves, no Jardim Novo Horizonte, onde jogava futebol.

O ato começou às 10 da manhã na praça em frente ao Centro Cultural Grajaú. A presença de Israel Barbosa deu o tom do protesto. Sua tez morena, exprimia um ar confiante de resistência e dignidade. Apesar da gravidade dos crimes denunciados, Barbosa surpreendeu os presentes ao mostrar carinho e disposição. Mesmo com todo o ocorrido, esbanjava sorriso e felicidade. Mas o riso, no caso, era por si só um ato de protesto: mesmo que o espanquem e ameacem, seus agressores não terão a vitória de extinguir o brilho dos olhos de Israel Barbosa. 

Homofobia sem pink money

A homofobia é menosprezada por muitos na esquerda em São Paulo como se tratasse de uma “pauta chique” do centro. Como se as únicas vítimas fossem de classe média e frequentadores da Avenida Paulista, nada mais distante da realidade. Nas periferias, tanto homofóbicos quanto a própria polícia, praticam cotidianamente ações de coerção e violência contra os corpos LGBTQIA+. As instituições e mesmo a maioria dos movimentos sociais são inertes frente a tantos abusos. Não reagem, pois as vítimas são menosprezadas pela nossa sociedade capitalista. Não reagem, pois nestes casos são quase sempre pessoas negras e pobres. Não há pink money, não há glamour capitalista. Há uma sociedade omissa frente às mais graves violações dos mais básicos direitos. Em resposta a tamanha omissão, é fundamental que haja resistência popular, que haja luta! Por isso o ato e cortejo no Grajau teve uma importância tão fundamental.

Mesmo em frente a violências tão brutais, ainda tem que haver espaço para a poesia na resistência. Emma Goldman é famosa por declarar: “não me convidem para uma revolução em que eu não possa dançar”. O cortejo fez jus a tal visão, foram convidados artistas, houve música e risos, foi organizada também uma oficina de stencil, uma forma de arte que pode ser ferramenta de denúncia e resistência. Após o encontro no Centro Cultural, o cortejo marchou pelas ruas da primeira balsa, com performances teatrais de Israel e músicas do cantor Élio Camalle. A marcha terminou na primeira balsa, no Grajaú. No trajeto, os manifestantes conversaram com os habitantes do bairro; expuseram crimes; levantaram a venda imposta em berço não tão esplêndido. 

Jogral feito em frente ao Bar em que Israel foi agredido na primeira balsa.

Resistir é possível!


A luta está longe de ser ganha, mas resistir é possível e necessário. Agir para além do centro é fundamental para qualquer um que leve a sério a luta pelo fim do genocídio e encarceramento. Mas para além dos atos, são várias as formas de resistência. Se solidarizar com as pessoas que sofrem desses abusos, de maneira direta, é estratégia também necessária.

Para além de atos, uma dica é assistir à peça de teatro estrelada pelo ator e nosso amigo Israel de Lima Barbosa. As apresentações online serão semanais, e a partir do próximo sábado dia 20 de novembro. Ingressos podem ser adquiridos pela plataforma Sympla, neste link.

Por Gabriel Junqueira – estudante de direito, anarquista e militante de movimentos sociais

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