Dos mais diversos ataques contra a educação que os estudantes tem que enfrentar o que de longe parece ser um dos mais perigosos é o avanço da militarização, que infelizmente não é só pauta do governo federal como também de alguns governos estaduais, como acontece no Estado de São Paulo.
Dentre as justificativas estão as mais variadas falsidades. Entre elas o que ecoa mais forte é que uma escola militar ou civil-militar (de gestão compartilhada entre pedagogos e militares) ajudaria a conter a indisciplina dos alunos, algo que para o senso comum soa como uma medida positiva, entretanto, se faz necessário discutir em que condições essa “disciplina” seria assegurada, que é claro com muita repressão aos alunos e até mesmo censura de atividades que estimulem o pensamento crítico.
Inegavelmente o Estado Brasileiro tem começado a se preocupar muito mais com a “indisciplina” dos alunos após o processo de ocupação das escolas de 2015 e 2016 contra o fechamento das escolas que seria promovido pela reorganização escolar e também contra a Máfia da Merenda. O Estado mudou a forma de lidar com os grêmios e outras organizações estudantis, colocando professores cada vez mais próximos de um processo que deveria ser autônomo, que é a organização dos alunos dentro da escola para lutar por melhores condições de ensino, afinal, constituir um grêmio é fundamental e um direito legítimo. Além disso, assembléias estudantis estão cada vez mais escassas, qualquer sinal de inquietação dos alunos com as condições das escolas é duramente reprimido pela gestão escolar.
Agora, no entanto, o Estado avança de uma maneira mais repressiva contra a autonomia dos estudantes utilizando de uma ferramenta que nunca trouxe efeitos positivos para o país: A militarização.
A ideia é submeter os alunos a um forte regime de hierarquia que é típico da tradição militar e vai na contramão de tudo que vinha sendo objetivo da educação, uma gestão escolar que fosse efetivamente democrática não vai acontecer, a tão sonhada integração entre direção, alunos, professores e a comunidade agora se torna ainda mais difícil. Não existe organização democrática, participativa e autônoma com o braço repressivo do Estado presente na equação.

Além disso, outro argumento é que a presença militar dentro das escolas ajudaria a garantir mais respeito ao professor. Aquela antiga falácia de que “na ditadura os professores eram mais respeitados” serve de base para essa medida. Mas afinal, pode mesmo ser intenção do governo promover mais respeito aos professores? Os mesmos professores que eles acusaram de estarem fazendo doutrinação ideológica comunistas (risos) nos alunos? Os mesmos professores que o governo acusa de causarem despesas ao Estado, sendo a “elite do funcionalismo público” apesar de no Brasil políticos e juízes receberem um salário de 30 mil reais e professores se virando com 2 mil. Sem contar os vários que tem que tirar do próprio bolso para giz e outras atividades na escola, afinal, isso faz parte de outro plano do governo: A precarização.
A ideia da precarização é acabar com tudo possível da educação pública, desde infraestrutura até mesmo sua estrutura de organização, colocando militares, para no final não sobrar outra opção além da privatização, este governo não atua em favor dos pobres, dos estudantes de escola pública, dos professores, ele atua em nome do grande capital, dos bancos e das empresas privadas de educação.
Neste sentido, é preciso sim pensar em maneiras de melhorar a educação no país, mas alternativas que de fato permitam a existência de uma educação de fato libertadora.
É preciso fornecer uma base para que a escola possa formar cidadãos livres, autônomos e com conhecimento suficiente para tomar suas decisões.
Militarização não é a solução, é parte de um projeto político de destruição e no final quem se prejudica é a população preta e a população periférica que necessita da educação pública.
Precisamos unir esforços, os professores, alunos e a comunidade num geral para defender uma educação gratuita e de qualidade. Não há respostas simples ou soluções mágicas, mas também não podemos nos permitir cair em armadilhas cujos objetivos são prejudicar o povo pobre e aumentar o poder de repressão do Estado.
Militarização e Privatização não!
Por Marcus Nascimento – Estudante secundarista, morador do Extremo Leste de SP militante anticapitalista, anti racista e ativista autônomo em educação.
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Parabéns pelo artigo. Se o Ensino Militar fosse uma alternativa, de qualidade, para os estudantes brasileiros não existiria o Genocidio da maioria da juventude brasileira e os numerosos casos de depressão que vitimiza milhares de policiais militares. “Educação é o processo que transforma potenciais de luz em luz de fato”, afirma um dos conceitos de Educação, mas se nos espelharmos nos militares da gestão federal executiva 2019-2023 a luminescência ainda e um desejo.