Dia 22 de Janeiro, ocorreu uma operação da ROCAM na Vila de Ponta Negra. Mais um evento espetacular de terrorismo e violência racial Estatal. E, sob a justificada de “legítima defesa” diante da ameaça de vida, os corpos tombados são sempre os mesmos: corpos negros e pobres.
Fortemente armados, e produzindo um cenário de operação de guerra, policiais militares entraram em casa de moradores mesmo sem mandato. Ou seja, numa típica situação na qual as forças policiais se colocam fora da lei em nome da lei: invasões de casas, fechamentos de vias, promoção de tiroteios e execuções sumárias.
Após a ação de ROCAM, que assassinou duas pessoas jovens da comunidade, foi realizado um protesto com familiares, crianças e mulheres da vila.
Não é a primeira vez que, na Vila de Ponta Negra, o Estado age produzindo uma situação de terror em toda comunidade, submetendo pessoas, famílias e crianças a um cenário de terror militar estatal. Uma das estratégias é produzir a imagem de inimigo que coloca comunidades inteiras na situação jurídica de exceção e de ameaça ao Estado, justificando assassinatos como medidas de “legítima defesa”.
As mortes, além disso, não possuem nenhum registro oficial. Isso expressa menos uma negligência do que uma dimensão do poder da violência total: tentar apagar os vestígios da violência estatal, que, entretanto, fica marcada nos corpos e memórias de familiares, vizinhos e no sangue que se junta à matéria do asfalto e é levado pelos ventos nas areias.
O Estado de Natal produz terror nas comunidades como quem joga a pedra e esconde a mão que a atirou. O apagamento de arquivos é um modo violento de produção de arquivo. Encontramos apenas dois registros vinculados na internet sobre a violência letal do Estado:
1) Uma pela @viacertanatal, que espetaculariza as dores ao mesmo tempo que silencia seus gritos, que explicitam como a ROCAM produz toda uma cena pra justificar sua letalidade. Não é nenhuma novidade o fato da polícia do Estado operar produzindo flagrantes forjados para justificar sua ação letal.
2) Um no Portal BO, em que a morte de uma pessoa e o baleamento de outra são descritos como “patrulhamento de rotina” e revide a “injusta agressão” sem nenhuma necessidade de comprovar como se deu o evento. Sempre-já, antes mesmo que algo aconteça, e por ser em um território pobre e de maioria racializada (indígenas e negros), o assassinato se justifica. Não é preciso comprovação ou perícia. Ainda nesse relato pró-estatal, se diz que a pessoa baleada foi prontamente socorrida, o que é desmentindo pelo próprio registro da @viacertanatal.
Ao nosso ver, esse tipo de violência estatal tende a se intensificar com a Vila de Ponta Negra, que se situa num território cobiçado pela especulação imobiliária. A engorda da praia de Ponta Negra, que afetou ambulantes e demais trabalhadores informais, além de causar destruição ambiental, é um índice disso. A especulação imobiliária, apoiada por medidas estatais, produz um processo crescente de precarização das nossas vidas com: aumento de alugueis, aumento dos preços dos mercados e aumento da violência policial contra uma comunidade indesejável ao negócios dos ricos e da classe política.
Diante dessa situação, o que pretendemos é produzir contra-discursos e ações que exponham a violência do Estado na Vila de Ponta Negra e questionem sua necessidade: pela da vida dos jovens negros, indígenas e pobres ceifadas pelo Estado, bem como das mães e companheiras que sustentam o luto e a dor da comunidade violentada pelo Estado.
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