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Categoria: Letras Invisíveis

Leão tomado pela fome

Postada na23 de fevereiro de 202123 de fevereiro de 2021AutoradminDeixe um Comentário!

Poema e arte por Moni Bardot – 23 anos, mulher preta e periférica, moradora do bairro Jaçanã/ZN. É artista de rua, atriz, poetisa e pintora. Faz … Continue lendo… →

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Autocuidado

Postada na24 de janeiro de 202124 de janeiro de 2021AutoradminDeixe um Comentário!

Viro meus olhos ao avesso pra eu poder me enxergar com um pouco mais de apreço. Hasteio bandeira branca no topo da cabeça, para que … Continue lendo… →

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Segunda

Postada na10 de janeiro de 202110 de janeiro de 2021AutoradminDeixe um Comentário!

Nesta manhã abrir os olhos e simplesmente se levantar foi algo difícil para ele. Mas assim o fez, como fez também todos os demais gestos … Continue lendo… →

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Uma Nota da Carta ao Pai

Postada na23 de agosto de 202023 de agosto de 2020AutorGabriel Silva1 Comentário ↓

Uma das coisas que mais me intrigaram nos últimos tempos pensando nos processos das masculinidades é justamente o de perceber uma figura central na experiência … Continue lendo… →

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Poesias antiracistas de Gloria Stefanie.

Postada na31 de julho de 202031 de julho de 2020AutorGabriel Silva1 Comentário ↓

Sem título Posso escutar os gritos Dos meus ancestrais Sendo chicoteados Por um branco sem coração Que diz que Preto não é gente Sinto a … Continue lendo… →

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Diário da Pandemia

Postada na20 de junho de 202020 de junho de 2020AutoradminDeixe um Comentário!

Dia 24 de março, começo da quarentena em São Paulo. Acordei com choro de criança, era Maria minha filha caçula. Disse que teve um pesadelo … Continue lendo… →

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As sinhás contemporâneas

Postada na5 de junho de 20205 de junho de 2020AutoradminDeixe um Comentário!

As sinhás contemporâneas lutam pelos direitos dos seus filhos,mas não conseguem sentir o mesmo pelos filhos de suas empregadas.Elas entendem todas as birras dos seus … Continue lendo… →

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Fique em casa?

Postada na1 de junho de 20201 de junho de 2020AutorSeixasDeixe um Comentário!

Enquanto você dizia: “fique em casa”, eu dizia: “fique em casa, pois trabalharemos por você”.Mas, na verdade, o que eu sentia era medo e insegurança.Você … Continue lendo… →

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Domingo

Postada na17 de maio de 202017 de maio de 2020AutorGabriel SilvaDeixe um Comentário!

É domingo, é noite. Domingo sombrío, translúcido, turvado por afetos que se conversam, que se mesclam. Domingo de nuvens grossas , de céu silencioso, sem … Continue lendo… →

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Fragmentos a esmo – ópios existenciais

Postada na15 de maio de 202015 de maio de 2020AutorGabriel SilvaDeixe um Comentário!

Da ausência Não é hoje  Não será amanhã  Não estará no sempre  Não se afigura no aquém O que não tem nome  O que não … Continue lendo… →

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  • Leão tomado pela fome

    Arte de Moni Bardot Poema e arte por Moni Bardot – 23 anos, mulher preta e periférica, moradora do bairro Jaçanã/ZN. É artista de rua, atriz, poetisa e pintora. Faz parte de dois coletivos de teatro, cujo nome Bando Jaçanã e Coletiva Luz 14Horas.Intervenção gráfica por Emily Barbosa – Moradora da Vila Formosa, Zona leste de São Paulo, Feminista interseccional, desenvolvedora web, estudante de relações internacionais e militante do coletivo quilombo invisível. “ A interseccionalidade do mundo é o que me move e o que me faz construir de forma ativa”. faz frio lá fora e aqui dentro parece nevar ao que tudo indica estamos no Brasil e são exatos 3h da manhã queimei o dedo fumando cigarro barato hoje senti a tal da velha infância, aquela que passa despercebida mas que quando passa é notada a falta não entendo porque escrevo o que penso… enfim, a lua mais uma vez apareceu e como sempre misteriosa.. pode parecer idiotice, mas eu a sinto vagarosamente ela me segue, num jogo bruto de observar . . cheguei na casa dos meus pais, como um leão tomado pela fome comi cara, sempre que sinto fome emano vibrações pra minha mãe mentalizo..arroz, feijão, repolho ou chuchu e quem sabe até batata frita, sei lá, mas parece que ela adivinha . . furei a quarentena e não me sinto mal, mesmo sabendo que me coloco e coloco os outros em risco, senti do fundo de mim que precisava sair, o egoísmo me venceu minha mente anda tão fodida “parece que o céu vai desabar sobre mim” andei falando coisas que não devo, normalmente é sobre amor não entendo, por que eu ainda insisto? às vezes falta respeito da minha parte por parte minha falta respeito falta respeitar o meu eu . . que saco! são só bobagens, são só bobagens não ditas . . às vezes sinto medo um medo bobo, um medo careta, um medo juvenil, um medo covarde medo do que sou capaz . . são exatos 3h33 estou sem sono, mas com a mente cheia de palavras turvas muitas eu não sei o significado vou dar um GOOGLE

  • Avante bárbaros!

    Essa é uma tradução resumida do artigo Onward Barbarians postado originalmente no site End Notes. No início da pandemia, com o lockdown e as medidas repressivas por parte dos Estados, se interromperam as lutas massivas que estavam em curso no Chile, França, Bagdá, Beirute e Hong Kong. Parecia para alguns (aqui, aqui e aqui) que haveria uma paralisação da luta de classes, mas essa impressão inicial foi logo abalada. Em Maio de 2020, a revolta retornou às ruas no Chile junto a um grande movimento de cozinhas auto organizadas para fazer frente à fome causada pela redução de renda. No México, tumultos explodiram após o assassinato de Giovanni López, trabalhador da construção civil morto pela polícia ao ser abordado por estar sem máscara. Nos EUA e na Alemanha, trabalhadores da Amazon iniciam greves contra os protocolos ineficientes de segurança contra a COVID-19. Na sequência, um movimento de massa de tamanho sem precedentes varreu os Estados Unidos em repulsa pelo assassinato de George Floyd por policiais. Iniciado em grande parte por residentes negros de Minneapolis, o levante foi rapidamente acompanhado por americanos de todos os lugares, raças e classes. A agitação global seguiu com protestos em El Salvador contra a piora dos padrões de vida e pelo fim dos bloqueios. Em julho, ocorreu a invasão do parlamento sérvio contra o toque de recolher. Na Etiópia explodiram manifestações violentas devido ao assassinato do cantor popular Haacaaluu Hundeessaa, resultando em 150 mortos. Protestos contra a violência policial (que matou 20 pessoas com a desculpa do toque de recolher) explodem nas favelas de Nairóbi, Quênia. Logo em seguida se iniciam mega protestos contra a violência policial na Nigéria. Em Belarus, um levante contra reeleição fraudulenta Alexander Lukashenko estremece o país. Tumultos violentos ocorrem na Colômbia após o assassinato de Javier Ordóñez pela polícia. Revoltas contra a polícia e bloqueios ocorrem em Madri e Nápoles. E na Índia se desencadeia a maior greve geral da história. O período atual pode representar uma virada das populações contra o sistema depois de décadas de declínio do crescimento econômico e crescimento do desemprego. O capitalismo vive a sua pior recessão global desde a década de 1930, com piores números de desemprego nos últimos 72 anos (US Bureau of Labor Statistics) e “o Reino Unido enfrentará seu declínio mais acentuado na produção desde 1706”, de acordo com o Banco da Inglaterra. Mundialmente as pessoas estão indo às ruas em escala sem precedentes em uma “confusão de identidades díspares reunidas por raiva pela deterioração das condições de vida, alienação, e a polícia”. 1 – UMA ACUMULAÇÃO GLOBAL DE NÃO MOVIMENTOS A era de protestos que começou com a crise econômica de 2008 não terminou. Apesar de a maioria das revoltas desse período terem sido esmagadas pela repressão do estado, transformadas em guerra civil ou fossilizadas em partidos políticos que buscam administrar as economias estagnadas de nosso mundo, há uma crescente das lutas anti governamentais em conjunto com uma queda constante da legitimidade política desde 2008 (como é possível observar nos gráficos abaixo). A onda de levantes que surgiram em maio de 2020 indica que esse crescimento da turbulência seguirá cada vez mais intenso. O eixo esquerdo (em vermelho) mostra o declínio constante na legitimidade política desde 2008, medida pela proporção de pessoas que expressam satisfação com a democracia.  No caso do Chile, por exemplo, pode-se ver a continuidade dessas revoltas como um fio condutor que conecta os protestos massivos de estudantes secundaristas conhecido como Revolución Pingüina em 2006, as revoltas de 2011 e, agora, em 2019 e 2020, quando as massas foram às ruas e forçaram a revisão da constituição do país. Da mesma forma, nos EUA, o Occupy Wall Street em 2011 foi seguido pelo Black Lives Matter em 2013, que desembocou no maior movimento social da história do país esse ano. Enormes manifestações, revoltas massivas e ondas de greve se tornaram o novo normal, mas isso não significa que estejamos caminhando para um ponto onde a revolução é inevitável, essa instabilidade pode simplesmente indicar nossa entrada em um mundo ingovernável. O que observamos desde 2008 é um aumento contínuo do que o sociólogo iraniano-americano Asef Bayat descreveu como “não-movimentos”, ou seja, “a ação coletiva de atores dispersos e desorganizados”, que não são em si mesmos revolucionários, mas são a expressão subjetiva do caos em que vivemos. São como “revoltas passivas”, refletindo a crescente deslegitimação da política num contexto de estagnação econômica e austeridade.  A crescente de não-movimentos envolvendo um número sem precedentes de pessoas somado ao declínio da legitimidade democrática, nos permite descrever a tendência de nossa era como a de produção de revolucionários sem revolução. A atual onda de instabilidade se tornou tão normalizada que mesmo a esquerda radical os rejeita por não cumprirem seus altos padrões: eles são muito liberais, muito violentos, muito passivos, muito informais, muito nacionalistas, muito parte do status quo, ou muito investido em políticas de identidade. A atual onda de não movimentos é moldada pela decomposição de classe e fragmentação que desfaz as bases econômicas não só do movimento operário mas da própria representação democrática. Por isso, essas práticas frequentemente aparecem com as vestes de identidade. Ao mesmo tempo, teorias embasadas em, por exemplo, perspectivas “interseccionais” que vêem a classe como uma identidade entre outras, também são enfraquecidas por essa “confusão” pois é a própria estrutura de classe em ramificação que fez da identidade a categoria política central de uma sociedade capitalista estagnada. Além disso, a crítica externa à política de identidade não vem ao caso, pois os próprios não-movimentos apresentam uma crítica imanente de seus limites em sua prática diária. Eles revelam como homens e mulheres estão começando a conceber a realidade em categorias além dos imperativos da economia, ao mesmo tempo em que se chocam com as consequências do que muitas vezes é chamado de neoliberalismo. A política de identidade é, para nós, o modo necessário de politização de um sujeito neoliberal para o qual os predicados da identidade parecem ser simultaneamente essenciais e não essenciais, fortalecedores e enfraquecedores. …

  • Sobre a liderança negra e outros mitos brancos

    We Still Outside Collective – 4 de junho de 2020 Publicado originalmente no site Ill Will, que recebeu este comunicado de alguns amigos negros em Nova York. Republicamos pois consideramos que a mensagem carrega é uma mensagem atual que também contempla a situação brasileira. O que eles chamam de “liderança negra” não existe. Vamos falar sério: o que eles estão falando nada mais é do que uma invenção da imaginação liberal branca. Ou seja, se esses chamados líderes negros sequer existem, então eles só podem ser encontrados descascando e sacudindo a cabeça de um branco “consciente”. Não é interessante como os brancos progressistas parecem ter uma linha direta de comunicação com os líderes negros, enquanto todos os outros nas ruas não sofrem da mesma esquizofrenia delirante? O que é ainda mais estranho é que as vozes que ouvem desses negros mágicos sempre conseguem dizer as mesmas coisas: “Todos deveriam protestar pacificamente na calçada, porque a raiva negra não mediada incomoda os outros”. “Não revide aquele policial, mesmo que ele queira matar você e todos que você ama.” “Eu sei que os seguranças seguem crianças negras de corredor em corredor, mas ainda assim, sua loja não deve ser saqueada.” Em outras palavras, a mensagem transmitida pelos sons repetidos na cabeça de um liberal branco é acabar com a revolta negra e conduzir a desobediência civil de uma maneira apropriada para Karen e Ethan, não para Jamal e Keisha. Vale a pena notar que os próprios negros nunca se referem a nenhuma liderança negra mítica. Isso porque sabemos, muito bem, que todos os nossos líderes, desde Martin e Malcolm, foram mortos. Até mesmo nossos líderes em potencial, como Trayvon e Tamir, são mortos a tiros antes que possam compartilhar conosco sua visão. Além do mais, se não forem brutalmente assassinados, serão trancados para sempre com Sundiata, Mutulu e Mumia. Ou seja, sabemos que se você fala com a verdade e age contra a opressão, a única maneira de evitar a bala do porco ou a penitenciária, o estalar do chicote moderno ou as plantations, é fugir como Assata Olugbala Shakur! Na verdade, qualquer negro que disser o contrário deve ser exposto pelo que é: um cafetão da pobreza! Depois de meio século sem uma figura de proa na frente, os jovens negros mostraram a todo o país que são mais do que capazes de traçar seu próprio caminho e dirigir suas próprias iniciativas. Eles demonstraram para nós um dinamismo que nunca pode ser reduzido a uma massa homogênea seguindo qualquer voz autoritária. Paradoxalmente, é todo o espectro da revolta negra nas ruas que pode ser identificado como “líderes” sem liderança, uma vez que mostraram a todos o que significa se libertar. Citando a observação ainda atual de James Baldwin, nós, negros, estamos mais cientes do funcionamento interno de nossos antagonistas de rosto pálido do que eles próprios. Consequentemente, o diagnóstico da condição psicológica de brancos conscientes é bastante simples: esta voz de James Earl Jones, Carl Winslow ou Rafiki do Rei Leão, que berra pelas paredes de seus crânios é um mecanismo de defesa contra sua incapacidade de reprimir completamente os seus próprios complexos de superioridade branca. O que também está bastante claro é que a única maneira de resolver totalmente esse problema é ganhar até mesmo uma pequena porcentagem da coragem de um adolescente negro e superar sua culpa branca com um punho, uma pedra e um coquetel molotov. – We Still Outside Collective 4 de junho de 2020 P.S. Fuck 12! https://www.youtube.com/watch?v=-jbEERrPoQA&feature=emb_title https://www.youtube.com/watch?v=nOFmx8OUnTk&feature=emb_title

  • Newsletter do Quilombo Invisível

    Em reação ao imenso levante Black Lives Matter que teve início em maio de 2020 nos EUA, o Facebook vem oficialmente perseguindo páginas anarquistas e antifascistas desde agosto, alegando que grupos de extrema direita e de extrema esquerda devem ser igualmente combatidos. A empresa que também controla o Whatsapp e Instagram se aproveita da preocupação geral provocada pelo fortalecimento da extrema direita através das redes sociais para também censurar as vozes de resistência, equivalendo, em uma distorção macabra, vidas negras importam e supremacia branca. Aqui é importante lembrar que há anos a extrema direita tem se utilizado dessa ferramenta para difundir discursos de ódio, se organizar e eleger seus candidatos, entre eles Trump e Bolsonaro, através de imensas campanhas de fake news. Após à recente invasão do Capitólio nos EUA incentivada por Trump, o Facebook anunciou que irá permanentemente “despolitizar” a plataforma. De acordo com o CEO Mark Zuckerberg, notícias relacionadas a política terão menos visibilidade no feed. Além disso, nas suas próprias palavras, existem inúmeros grupos que ele gostaria que fossem deletados mesmo que não violem nenhuma regra da plataforma. No dia 10 de fevereiro, a empresa declarou o inicio do processo de modificação do seu algoritmo para redução da visibilidade do conteúdo político, com impacto nos feeds de países como Brasil, Canadá e Indonésia, com expansão para os Estados Unidos na próxima semana. Essa censura aberta ao conteúdo político ira afetar de modo severo o material útil a organização e luta dos de baixo. Devemos lembrar que as ferramentas tecnológicas para censura nas redes já foram largamente desenvolvidas e testadas na China desde o surgimento destas redes, e que sua aplicação mais descarada a nível global é uma questão de tempo e de correlação de forças com o acirramento da luta de classes. Não podemos ser ingênuos em relação ao caráter reacionário dos planos das grandes corporações da indústria digital, nem duvidas quanto aos poderes nefastos que o uso combinado e estrategicamente manobrado que a vigilância, coleta de dados, censura e promoção de conteúdos selecionados assumem nessas plataformas, de forma que a independência e a construção de infraestruturas alternativas de comunicação em relação a essas redes se impõem como uma tarefa cotidiana inescapável para a resistência. Nesse sentido, como um dos meios para continuar divulgando ideias, literatura e notícias dos de baixo, nós decidimos iniciar uma newsletter mensal com as atualizações do site. Essa newsletter que iremos enviar conterá nosso conteúdo produzido nesse tempo, além de uma seleção de notícias e outros materiais que consideremos relevantes. Convidamos a todos que gostariam de continuar recebendo nosso conteúdo a cadastrar seu email abaixo: .

  • Entrevista com Talita Nunes, da ocupação da São Remo, na USP

    A seguir, entrevista com Talita Nunes, moradora da ocupação da São Remo, formada por maioria de mães, crianças e idosos que ocuparam no dia 29/01 um terreno abandonado da USP. Apesar de o terreno estar sem sem uso social a mais de 30 anos, o reitor Vahan Agopyan e seu superintendente José Antônio Visitin ameaçam de despejo pessoas sem-teto da São Remo em plena pandemia. E ao final incluímos um breve texto de contextualização. Todo apoio à ocupação da São Remo! Você pode começar se apresentando? Meu nome é Talita Nunes, eu tenho 25 anos, sou moradora aqui da São Remo faz 3 anos, porém eu ando aqui desde os meus 12 anos de idade. Tenho três filhas, uma de 10, uma de 8 e uma bebezinha de 1 ano e 9 meses. O que motivou vocês a ocupar o terreno? Por ele está abandonado. Desde que eu me conheço por gente aqui nunca foi nada, sempre com mato, com lixo, jogado, abandonado… Tem pessoa que é mais velha do que eu e diz a mesma coisa, que aqui nunca foi ocupado para nada, só acumulando lixo, achamos bichos, barata da terra, filhote de rato, ratazana, cobra aranha, aranha enorme… Já tem gente morando no terreno? Sim, tem bastante pessoas. Eu mesmo arrumei umas madeiras que eu vi jogadas em entulho de obra, que eu não tenho condições de comprar. Aí eu fiz com as madeiras, coloquei um sofá, coloquei um colchão e já tô dormindo aqui, já tô morando aqui. Hoje faz uma semana que eu tô aqui, desde segunda-feira. O terreno foi ocupado na sexta-feira passada, não nessa na outra. Qual foi a resposta da USP até agora? Pelo que a gente sabe, eles pediram uma ordem judicial à polícia, né? Pra polícia vir retirar a gente. Por enquanto eles ainda não vieram, veio dois policiais com um rapaz da USP –  não sei dizer o que ele é – tiraram fotos, andaram aqui por dentro, mas depois disso eles não falaram mais nada. Só tem essa questão de que um dia eles vão querer chegar aqui e tirar, mas até agora eles não chegaram e não falaram nada. E de estudantes e professores, teve alguma reação? Dos estudantes só. Eles tão ajudando a gente, todos os dias eles estão trazendo marmitex. Não dá para todo mundo que está aqui, mas já ajuda bastante, lanche, pão, suco… Eles querem ajudar a gente com uma horta aqui também e com trabalho braçal, né? Cavar um buraco, colocar uma lona, porque aqui a maioria não tem condição de comprar madeiras nem telha. Então estamos dormindo debaixo de lona, alguns conseguiu umas madeiras, coloca madeiras em volta, lona em cima. E qual é a situação atual na ocupação? A gente está apreensivo. Cada dia que passa a gente fica pensativo se vai chegar, se não vai. No meu espaço mesmo, eu não saí daqui nenhum dia. Do dia que eu cheguei aqui, eu tô aqui todos os dias, todas as horas, todos os momentos, com medo deles virem e derrubarem tudo. A gente está apreensivo, bem com medo mesmo, porque a gente não sabe como que eles vão querer chegar, né? Se vai ser pacífico, se vai dar tempo da gente sair, se eles vão já chegar fazendo alguma coisa… Qual é a perspectiva futura de vocês? A nossa esperança é que a gente possa cada um construir o seu cantinho, seja de madeira, de bloco… Mas que a gente possa conquistar aqui, colocar água, poste de luz, e que a gente possa residir aqui. Eu mesmo não tenho como pagar o meu aluguel já tem 2 meses e o moço falou que vai pedir a casa, entendeu? Até dezembro eu consegui pagar o aluguel com o auxílio, porém esse mês de janeiro já não teve auxílio, é um aluguel a menos. O meu vence agora dia 10, já são mais dois aluguéis que eu não tô conseguindo pagar por conta disso. Eu não tenho com quem deixar minhas filhas, não tá tendo creche, não tem escola, eu sou sozinha, então é bem complicado. Como as pessoas de fora podem ajudar vocês? A gente montamos uma cozinha aqui, conseguimos um fogão, um gás e a gente está arrecadando alimento. O que vier ajuda a gente aceita, seja arroz, feijão, ovo, mistura… Porque faz para todo mundo, não faz só para um para outro, é para todo mundo, então a gente tá precisando mais disso. Água, bastante água, porque a gente está tendo que pegar em um lava-rápido para poder colocar aqui em umas garrafas que foi comprada. Então a gente precisa de ajuda nisso. Eu fiz com os estudantes da USP um cartaz e coloquei o meu pix (11970680035) pra quem quiser fazer a doação em dinheiro. Vai ser tudo repassado para isso: para comprar as coisas para cozinha, lona para quem não tem condições… Tem muitas pessoas aqui que não tem condições de comprar lona, de nada, então a gente tá arrecadando isso também. E tudo isso vai ser comprovado, com comprovante, notinhas e tudo mais. Tem mais alguma coisa que você quer dizer? Para eles serem solidários e estabelecer aqui para gente. Porque querendo ou não, a gente estamos aqui há bastante tempo e a gente que fez a limpeza do terreno, o lixo tá sendo tirado por nós mesmo, os bichos… Tá tudo sendo tirado por nós mesmo porque eles mesmo falam que é da USP, que eles têm um projeto, mas que projeto é isso que eles não têm cuidado do terreno que é deles? Então já que eles não vem cuidar, a gente estamos aqui para isso, para cuidar e garantir uma moradia para gente. Porque é aquilo que eu falei, eu mesmo já to com meu aluguel 2 meses atrasado, tem pessoas que tá a mais tempo, tem pessoas que não têm o que comer, ou trabalha para pagar o aluguel ou para comer. Então tá bem complicado, entendeu? Tem pessoas aqui já com …

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  • Avante bárbaros!

    Essa é uma tradução resumida do artigo Onward Barbarians postado originalmente no site End Notes. No início da pandemia, com o lockdown e as medidas repressivas por parte dos Estados, se interromperam as lutas massivas que estavam em curso no Chile, França, Bagdá, Beirute e Hong Kong. Parecia para alguns (aqui, aqui e aqui) que haveria uma paralisação da luta de classes, mas essa impressão inicial foi logo abalada. Em Maio de 2020, a revolta retornou às ruas no Chile junto a um grande movimento de cozinhas auto organizadas para fazer frente à fome causada pela redução de renda. No México, tumultos explodiram após o assassinato de Giovanni López, trabalhador da construção civil morto pela polícia ao ser abordado por estar sem máscara. Nos EUA e na Alemanha, trabalhadores da Amazon iniciam greves contra os protocolos ineficientes de segurança contra a COVID-19. Na sequência, um movimento de massa de tamanho sem precedentes varreu os Estados Unidos em repulsa pelo assassinato de George Floyd por policiais. Iniciado em grande parte por residentes negros de Minneapolis, o levante foi rapidamente acompanhado por americanos de todos os lugares, raças e classes. A agitação global seguiu com protestos em El Salvador contra a piora dos padrões de vida e pelo fim dos bloqueios. Em julho, ocorreu a invasão do parlamento sérvio contra o toque de recolher. Na Etiópia explodiram manifestações violentas devido ao assassinato do cantor popular Haacaaluu Hundeessaa, resultando em 150 mortos. Protestos contra a violência policial (que matou 20 pessoas com a desculpa do toque de recolher) explodem nas favelas de Nairóbi, Quênia. Logo em seguida se iniciam mega protestos contra a violência policial na Nigéria. Em Belarus, um levante contra reeleição fraudulenta Alexander Lukashenko estremece o país. Tumultos violentos ocorrem na Colômbia após o assassinato de Javier Ordóñez pela polícia. Revoltas contra a polícia e bloqueios ocorrem em Madri e Nápoles. E na Índia se desencadeia a maior greve geral da história. O período atual pode representar uma virada das populações contra o sistema depois de décadas de declínio do crescimento econômico e crescimento do desemprego. O capitalismo vive a sua pior recessão global desde a década de 1930, com piores números de desemprego nos últimos 72 anos (US Bureau of Labor Statistics) e “o Reino Unido enfrentará seu declínio mais acentuado na produção desde 1706”, de acordo com o Banco da Inglaterra. Mundialmente as pessoas estão indo às ruas em escala sem precedentes em uma “confusão de identidades díspares reunidas por raiva pela deterioração das condições de vida, alienação, e a polícia”. 1 – UMA ACUMULAÇÃO GLOBAL DE NÃO MOVIMENTOS A era de protestos que começou com a crise econômica de 2008 não terminou. Apesar de a maioria das revoltas desse período terem sido esmagadas pela repressão do estado, transformadas em guerra civil ou fossilizadas em partidos políticos que buscam administrar as economias estagnadas de nosso mundo, há uma crescente das lutas anti governamentais em conjunto com uma queda constante da legitimidade política desde 2008 (como é possível observar nos gráficos abaixo). A onda de levantes que surgiram em maio de 2020 indica que esse crescimento da turbulência seguirá cada vez mais intenso. O eixo esquerdo (em vermelho) mostra o declínio constante na legitimidade política desde 2008, medida pela proporção de pessoas que expressam satisfação com a democracia.  No caso do Chile, por exemplo, pode-se ver a continuidade dessas revoltas como um fio condutor que conecta os protestos massivos de estudantes secundaristas conhecido como Revolución Pingüina em 2006, as revoltas de 2011 e, agora, em 2019 e 2020, quando as massas foram às ruas e forçaram a revisão da constituição do país. Da mesma forma, nos EUA, o Occupy Wall Street em 2011 foi seguido pelo Black Lives Matter em 2013, que desembocou no maior movimento social da história do país esse ano. Enormes manifestações, revoltas massivas e ondas de greve se tornaram o novo normal, mas isso não significa que estejamos caminhando para um ponto onde a revolução é inevitável, essa instabilidade pode simplesmente indicar nossa entrada em um mundo ingovernável. O que observamos desde 2008 é um aumento contínuo do que o sociólogo iraniano-americano Asef Bayat descreveu como “não-movimentos”, ou seja, “a ação coletiva de atores dispersos e desorganizados”, que não são em si mesmos revolucionários, mas são a expressão subjetiva do caos em que vivemos. São como “revoltas passivas”, refletindo a crescente deslegitimação da política num contexto de estagnação econômica e austeridade.  A crescente de não-movimentos envolvendo um número sem precedentes de pessoas somado ao declínio da legitimidade democrática, nos permite descrever a tendência de nossa era como a de produção de revolucionários sem revolução. A atual onda de instabilidade se tornou tão normalizada que mesmo a esquerda radical os rejeita por não cumprirem seus altos padrões: eles são muito liberais, muito violentos, muito passivos, muito informais, muito nacionalistas, muito parte do status quo, ou muito investido em políticas de identidade. A atual onda de não movimentos é moldada pela decomposição de classe e fragmentação que desfaz as bases econômicas não só do movimento operário mas da própria representação democrática. Por isso, essas práticas frequentemente aparecem com as vestes de identidade. Ao mesmo tempo, teorias embasadas em, por exemplo, perspectivas “interseccionais” que vêem a classe como uma identidade entre outras, também são enfraquecidas por essa “confusão” pois é a própria estrutura de classe em ramificação que fez da identidade a categoria política central de uma sociedade capitalista estagnada. Além disso, a crítica externa à política de identidade não vem ao caso, pois os próprios não-movimentos apresentam uma crítica imanente de seus limites em sua prática diária. Eles revelam como homens e mulheres estão começando a conceber a realidade em categorias além dos imperativos da economia, ao mesmo tempo em que se chocam com as consequências do que muitas vezes é chamado de neoliberalismo. A política de identidade é, para nós, o modo necessário de politização de um sujeito neoliberal para o qual os predicados da identidade parecem ser simultaneamente essenciais e não essenciais, fortalecedores e enfraquecedores. …

  • Sobre a liderança negra e outros mitos brancos

    We Still Outside Collective – 4 de junho de 2020 Publicado originalmente no site Ill Will, que recebeu este comunicado de alguns amigos negros em Nova York. Republicamos pois consideramos que a mensagem carrega é uma mensagem atual que também contempla a situação brasileira. O que eles chamam de “liderança negra” não existe. Vamos falar sério: o que eles estão falando nada mais é do que uma invenção da imaginação liberal branca. Ou seja, se esses chamados líderes negros sequer existem, então eles só podem ser encontrados descascando e sacudindo a cabeça de um branco “consciente”. Não é interessante como os brancos progressistas parecem ter uma linha direta de comunicação com os líderes negros, enquanto todos os outros nas ruas não sofrem da mesma esquizofrenia delirante? O que é ainda mais estranho é que as vozes que ouvem desses negros mágicos sempre conseguem dizer as mesmas coisas: “Todos deveriam protestar pacificamente na calçada, porque a raiva negra não mediada incomoda os outros”. “Não revide aquele policial, mesmo que ele queira matar você e todos que você ama.” “Eu sei que os seguranças seguem crianças negras de corredor em corredor, mas ainda assim, sua loja não deve ser saqueada.” Em outras palavras, a mensagem transmitida pelos sons repetidos na cabeça de um liberal branco é acabar com a revolta negra e conduzir a desobediência civil de uma maneira apropriada para Karen e Ethan, não para Jamal e Keisha. Vale a pena notar que os próprios negros nunca se referem a nenhuma liderança negra mítica. Isso porque sabemos, muito bem, que todos os nossos líderes, desde Martin e Malcolm, foram mortos. Até mesmo nossos líderes em potencial, como Trayvon e Tamir, são mortos a tiros antes que possam compartilhar conosco sua visão. Além do mais, se não forem brutalmente assassinados, serão trancados para sempre com Sundiata, Mutulu e Mumia. Ou seja, sabemos que se você fala com a verdade e age contra a opressão, a única maneira de evitar a bala do porco ou a penitenciária, o estalar do chicote moderno ou as plantations, é fugir como Assata Olugbala Shakur! Na verdade, qualquer negro que disser o contrário deve ser exposto pelo que é: um cafetão da pobreza! Depois de meio século sem uma figura de proa na frente, os jovens negros mostraram a todo o país que são mais do que capazes de traçar seu próprio caminho e dirigir suas próprias iniciativas. Eles demonstraram para nós um dinamismo que nunca pode ser reduzido a uma massa homogênea seguindo qualquer voz autoritária. Paradoxalmente, é todo o espectro da revolta negra nas ruas que pode ser identificado como “líderes” sem liderança, uma vez que mostraram a todos o que significa se libertar. Citando a observação ainda atual de James Baldwin, nós, negros, estamos mais cientes do funcionamento interno de nossos antagonistas de rosto pálido do que eles próprios. Consequentemente, o diagnóstico da condição psicológica de brancos conscientes é bastante simples: esta voz de James Earl Jones, Carl Winslow ou Rafiki do Rei Leão, que berra pelas paredes de seus crânios é um mecanismo de defesa contra sua incapacidade de reprimir completamente os seus próprios complexos de superioridade branca. O que também está bastante claro é que a única maneira de resolver totalmente esse problema é ganhar até mesmo uma pequena porcentagem da coragem de um adolescente negro e superar sua culpa branca com um punho, uma pedra e um coquetel molotov. – We Still Outside Collective 4 de junho de 2020 P.S. Fuck 12! https://www.youtube.com/watch?v=-jbEERrPoQA&feature=emb_title https://www.youtube.com/watch?v=nOFmx8OUnTk&feature=emb_title

  • Do luto à luta: Entrevista com Dona Hilda

    O recente período dito democrático, foi marcado pela continuidade do uso sistemático da violência de Estado contra as populações pobres, pretas e periféricas, de forma que os agentes do Estado que promoviam sequestros, torturas e execuções na ditadura empresarial-militar continuaram exercendo essas práticas no período dito democrático, apenas tornando seu uso mais focalizado nos setores que despertam menos solidariedade e utilizando novos pretextos como as políticas de guerra às drogas e encarceramento em massa. Neste contexto, emergem movimentos de familiares de vítimas da violência do Estado como as Mães do Acari  (surgido no Rio de Janeiro na década de 90 após o massacre de 11 jovens no que ficou conhecido como Massacre do Acari) e as Mães de Maio (surgido a partir da chacina de 564 pessoas ocorridas em maio de 2006 em diferentes cidade do Estado de São Paulo). Os relatos que iremos apresentar a seguir se inserem nesse contexto,  não como histórias de exceção, mas como casos exemplares de como a vida é tratada na história recente do país.  Dona Jadeci e Dona Hilda No dia 13 de setembro de 2020, quando o assassinato de Alexandre completou 16 anos, mãe e tia trouxeram histórias e memórias dos seus filhos. O primeiro filho, Jefferson, faleceu em 2001 pela infração de trânsito de uma empresa de ônibus. O segundo filho, Alexandre, foi assassinado em 2004 pelo braço armado do Estado.  Em relato, a mãe conta a história do filho Alexandre, desde o nascimento até a sua morte. Dona Jadeci conta que na sua casa era tudo alegre com a presença dos filhos. Jefferson, Alexandre e alguns amigos cantores de funk se encontravam e criavam músicas. “O estilo dele (Alexandre) era esse, ele gostava daquele sapato tudo da moda, ele gostava de usar aquelas correntes grossas né, gostava muito de bombeta, gostava de perfume, o Kaiak, tudo dele tinha que ser de marca. Ele gostava muito de camiseta Polo, sabe?”  Dona Hilda conta que o seu sobrinho Alexandre sempre foi vítima de racismo e da violência policial na sua comunidade. Em 2004 Alexandre foi preso de forma forjada e ilegal por policiais militares. Na saída do baile, os policiais fizeram sua prisão acusando-o de assalto. “Houve um assalto na Vila Formosa, onde a pessoa tinha o carro idêntico ao dele, mas o dele era de outra cor, mesmo assim ele ficou quase 8 meses na 41 e depois foi para 49 preso. Eu gritava na porta do presídio: ‘Xande, Xande, Xande…’ Aí o carcereiro olhava e falava assim pra mim: ‘É…a senhora vai cansar de ficar gritando!’ Depois ele saiu pela porta da frente. O juiz viu que ele era inocente e que não tinha cometido o crime!”  Dona Hilda, antiga militante do “Movimento das Mães da Leste” e “Pelo fim da impunidade que se busca” hoje luta por memória e justiça ao lado irmã Jadeci. Publicamos aqui a primeira parte da entrevista com a Dona Hilda e futuramente publicaremos a  segunda parte da entrevista com a Dona Jadeci. “Quando tiram a vida do nosso filho, eles estão levando a nossa também. A gente fica faltando um pedaço. Eu estou faltando dois pedaços. Eles deixam a gente vazia, a gente fica vazia. Quando o nosso filho morre, a gente morre junto com ele!” Alexandre Roberto Azevedo Seabra da Cruz – Nascimento 26/08/1980 está nos braços de Deus 13/09/2004  Saudade sem fim, te amo meu anjo. Sinto o cheiro do seu perfume, saudade dos seus beijos, seu andar carinhoso que parecia que andava sobre as nuvens, sorriso de criança, dançava e chegava a flutuar no ar. Hoje meu menino é uma linda estrela que brilha no céu iluminando a terra A vida me ensinou a dizer adeus às pessoas que amo sem tirar do meu coração Assinado Hilda Dona Hilda NR: Você pode começar se apresentando? Dona Hilda: Eu sou Hilda, mãe e tia do Alexandre, que é uma das vítimas pela mão da polícia. Hoje eu estou com 61 anos e sou moradora da Vila Carrão na Zona Leste faz 40 anos.     Dona Hilda: Eu saí do Pernambuco quando eu tinha 15 anos. Eu vim pro Rio de Janeiro para trabalhar na casa de família de uns libaneses, inclusive foram eles que pagaram a passagem para eu e minha irmã vir. Aí nós aproveitamos e viémos porque nós tínhamos que encontrar duas tias nossas perdidas a mais de vinte anos. Minha avó não sabia como encontrar essas tias, e ela tinha muitas saudades. Então veio eu e minha irmã, eu tinha 15 ela tinha 14. Nós ficamos no Rio de Janeiro dois anos, a cidade linda e maravilhosa, nós fomos muito felizes. Aí depois de dois anos nós encontramos nossa tia, encontrando nossa tia, aí meu irmão veio de Pernambuco para São Paulo e como ele era mais velho e nós duas de menor, ele foi até o Rio de Janeiro e resgatou eu e minha irmã e trouxe para São Paulo.  Eu cheguei aqui em São Paulo com 17 anos no dia 30 de outubro de 1997, também é uma cidade linda e maravilhosa, eu gostei muito de São Paulo, inclusive, estou aqui até hoje. Pra mim São Paulo é minha cidade, a minha cidade Natal é São Paulo. Aqui construí a minha família, aqui eu fiz minha vida, e aqui é onde eu também sinto dor de muitas perdas e luto também a favor sempre das pessoas mais pobres e humildes como eu das periferias e das comunidades. Aos 17 anos trabalhei aqui em São Paulo e eu e minha irmã moramos juntas, nós nunca nos separamos, é eu e ela. Aonde ela vai eu vou, aonde eu vou ela vai.Foi quando a minha irmã foi trabalhar em um restaurante Juventu, e lá no restaurante ela conheceu o Juracir, achei muito lindo a atitude dos dois. Juracir um chefe de cozinha e minha irmã Jadecir uma saladeira. Na época eu tinha os meus 18 anos e minha irmã os seus 17 anos. Aí ela conheceu o Juracir e …

  • Uma saudação para a heróica Rebelião de Attica

    “Nós somos homens! Não somos bestas e não pretendemos ser conduzidos ou espancados como tais! ” – Elliot LD Barkley, um líder da Rebelião Ática de 21 anos que foi assassinado pelo estado. Ele foi colocado em Ática por uma violação de liberdade condicional menor e estava programado para ser libertado cerca de uma semana após o início da rebelião. Em 9 de setembro de 1971, aproximadamente 1.500 presos no Bloco D da Cela tomaram o Estabelecimento Correcional da Ática no norte do estado de Nova York, após apresentar um manifesto de 27 pontos à administração penitenciária, numa tentativa de resolver as condições torturadoras dentro da prisão. Na época da revolta, 2.300 prisioneiros foram presos em uma prisão construída para apenas 1.600 pessoas. A supremacia branca atrás dos muros era evidente em todos os lugares, desde como os prisioneiros eram alojados até as tarefas brutais de trabalho. Aos prisioneiros era permitido um banho por semana e um rolo de papel higiênico por mês. Eles trabalhavam cinco horas por dia e eram pagos entre 20 centavos e 1 dólar por todo o dia. Durante 14 a 16 horas, eles eram trancados em minúsculas celas de 1,80 m por 1,80 m. Um espectro revolucionário É fundamental compreender o contexto histórico mais amplo em que essa rebelião ocorreu. Como pessoas tão abatidas, cujas vidas estavam penduradas na balança pelo capricho de um guarda, poderiam realizar uma ação tão corajosa? Fora das prisões e também dentro de muitas prisões, travava-se uma batalha pela libertação nacional dos negros, porto-riquenhos, indígenas e chicanx. Um novo clima revolucionário estava varrendo o país para acabar com todos os tipos de opressão. Milhões de pessoas protestavam contra a Guerra do Vietnã. O movimento de libertação das mulheres estava começando a florescer. Apenas dois anos depois, ocorreu a ocupação de Wounded Knee pelo American Indian Movement (AIM). A Comissão McKay (Comissão Especial sobre Ática do Estado de Nova York) comentou mais tarde: “Com exceção dos massacres indígenas no final do século XIX, o ataque da Polícia Estadual que pôs fim à revolta de quatro dias na prisão foi o encontro mais sangrento de um dia entre americanos desde a Guerra Civil”. Organizando-se por trás das grades Uma organização séria estava acontecendo dentro da Ática antes da rebelião. Muitos dos grupos fora da prisão foram refletidos dentro, incluindo o Partido dos Panteras Negras, os Jovens Lordes, a Nação do Islã e os Cinco Por Cento. Muitos mantinham grupos de estudos dentro das prisões. A Attica Liberation Faction se desenvolveu neste período. Em julho de 1971, a Attica Liberation Faction apresentou uma lista de 27 demandas ao Comissário de Correções Russell Oswald e ao governador Nelson Rockefeller. Esta lista de demandas foi baseada no Manifesto dos Prisioneiros de Folsom, elaborado pelo prisioneiro da Chicanx, Martin Sousa, em apoio à greve de prisioneiros de novembro de 1970 na Califórnia. Então, em 21 de agosto de 1971, o líder dos Panteras Negras George Jackson foi morto a tiros por guardas racistas na prisão de San Quentin na Califórnia. Prisioneiros de todo o país, incluindo várias centenas na Ática, fizeram greve de fome. O assassinato de George Jackson se tornou a cola que permitiu aos prisioneiros da Ática se unirem entre religiões, nacionalidades e facções políticas. A Comuna de Paris dos prisioneiros Em 9 de setembro, os prisioneiros da Ática tomaram as instalações. Eles fizeram reféns oficiais penitenciários para garantir que seu protesto fosse ouvido, uma vez que não haviam recebido resposta ao seu manifesto do comissário penitenciário ou do governador. Embora os eventos que ocorreram em 9 de setembro tenham sido espontâneos e tenham começado por um confronto entre guardas e prisioneiros, o nível de organização imposto por lideranças revolucionárias fizeram dos eventos espontâneos uma revolta em grande escala, graças também a formação política que se deu pré-rebelião. Mesmo sob condições tão adversas, o alto grau de organização e disciplina dos milhares de prisioneiros que participaram é notável. Eles elegeram um comitê central, que alternou presidentes; eles organizaram um comitê de observadores de 33 pessoas, que incluía não apenas o advogado William Kunstler, o Pantera Negra Bobby Seale, o membro da Assembleia do Estado de Nova York Arthur O. Eve e representantes dos Young Lords, mas também Tom Soto do Comitê de Solidariedade aos Prisioneiros. As demandas estavam sendo desenvolvidas continuamente. Uma das principais era a anistia para todos os prisioneiros. Inúmeras fotos mostram as fileiras de tendas, valas preparatórias e muitas das outras medidas que os presos organizaram. Eles votaram em demandas e racionaram comida e água para sobreviver. Durante toda a ocupação, os 40 reféns foram tratados com humanidade. As demandas concretas que se desenvolveram durante a insurreição incluíram todos os aspectos da sobrevivência na prisão, incluindo saúde, alimentação, fim do confinamento solitário, o direito de visitação e uma lista de direitos trabalhistas, incluindo o direito a organização sindical e o fim da exploração. A primeira vez que a classe trabalhadora tomou o poder em suas próprias mãos foi a insurreição conhecida como Comuna de Paris de 1871. Os comunas cancelaram os aluguéis, reconheceram os direitos das mulheres, aboliram o trabalho infantil, assumiram locais de trabalho e estabeleceram sua própria forma de governo. A comuna serviu de exemplo histórico para muitos socialistas revolucionários do poder da organização da classe trabalhadora. No fim, foi afogada em sangue, mas as lições permanecem. Um século depois, em 13 de setembro de 1971, o governador Rockefeller ordenou o ataque à prisão de Ática. Com helicópteros, cerca de 1.000 soldados estaduais, tropas da guarda nacional e guardas prisionais atiraram no pátio, matando 39 pessoas e ferindo 85 no que só pode ser descrito como um massacre. E isso aconteceu em apenas 15 minutos. Muitos dos feridos não receberam atendimento médico. Os prisioneiros não tinham armas ou balas para se defender. A imprensa gritou que os 10 guardas cativos que morreram tiveram suas gargantas cortadas. Mas as autópsias mostraram que todos os 10 foram mortos a tiros pelas tropas de choque de Rockefeller. O que aconteceu logo …

  • As Filipinas e a luta anticolonial internacional.

    Boa tarde e saudação a todos nós reunidos aqui para marcar a celebração do Mês Anticolonial Berlim. Nós dos coletivos Gabriela Germany e Migrant Europe estamos muito felizes e honradas de ter esse espaço e tempo nesse evento tão significativo. As Filipinas, como muitos outros países em desenvolvimento do Hemisfério Sul, é rica em recursos naturais, mas as pessoas são pobres. Esta é a contradição marcante que assola a sociedade filipina.  Temos depósitos de minérios, águas, montanhas e florestas repletas de vida e variedade, e terras agrícolas férteis e vastas.   A partir de 1521, os espanhóis vieram e colonizaram as Filipinas. Eles trouxeram consigo, entre outros, o ainda existente sistema de propriedade secular, o feudalismo, no qual centenas de hectares de terra pertencem a poucos proprietários, e a maioria dos camponeses permanecem sem terra e pobres. Estas condições são preservadas pela interferência de interesses estrangeiros. Produtos excedentes e capital estão sendo despejados no país, matando assim qualquer indústria local e perpetuando a dependência de produtos importados. Tal invasão é possível graças às políticas neoliberais que o governo do país está mais do que disposto a implementar. Portanto, a economia continua dependente da importação e orientada para a exportação. Importamos até mesmo as commodities mais básicas e exportamos matérias primas e trabalhadores! É nestas condições, o velho sistema feudal, com a imposição da dominação estrangeira, que conduz o povo filipino a uma pobreza extrema e a uma crise crônica. Entre as “commodities” que o país exporta está uma enorme força de trabalho. Nos anos 80, ela foi transformada em política, a chamada LEP (Política de Exportação de Trabalho). Esta política não só facilita o movimento diaspórico dos filipinos para fora do país em busca de emprego e melhores condições de vida, mas também custa aos filipinos outras repercussões sociais, tais como o desmembramento de famílias devido à distância. Há cerca de 10 milhões (documentados) de filipinos fora do país, a maioria são trabalhadores filipinos no exterior.  Um número significativo trabalha em hospitais, casas de repouso, casas particulares, fábricas, e na indústria marítima. Em alguns estudos, quando incluímos os sem documentação, os números chegam a dobrar. Mas os trabalhadores migrantes, quando chegam a seus países de destino, se encontram em condições precárias e desfavoráveis. Aqui na Alemanha, a narrativa de que os migrantes estão vindo aqui para roubar os empregos do povo alemão é continuamente popularizada. E isto acontece em muitos outros países da Europa. Como a Pandemia de Covid19 continua a devastar, tais narrativas são agravadas pela marca de nós migrantes como portadores da doença, enquanto paradoxalmente, somos nós migrantes e muitas pessoas de cor que somos mais vulneráveis enquanto continuamos a trabalhar nas chamadas linhas de frente, os empregos relevantes do sistema que os países anfitriões tão terrivelmente necessitam. O que muitas pessoas aqui na Europa não conseguem ver são as verdadeiras razões pelas quais as pessoas migram. Grandes empresas capitalistas monopolistas continuam a despejar o capital excedente para os países em desenvolvimento, destruindo assim as indústrias locais desses países e sua eventual chance de industrialização e desenvolvimento nacional. Continuam a espremer o sangue e o suor dos trabalhadores para obter seus super lucro, e concentrar a riqueza nas mãos de poucos, no processo também destruindo o meio ambiente em uma escala e uma proporção sem precedentes, as pessoas são agora FORÇADAS a Migrar! Pois mais e mais pessoas desses países mergulham na pobreza.   A última etapa do capitalismo monopolista que é o imperialismo criou guerras de agressão que deslocaram milhões de pessoas, em grande parte dos países em desenvolvimento. A partir de 2017, de acordo com dados da ONU, houve um recorde de 68,5 milhões de pessoas deslocadas forçadamente por causa de guerras e violência! Isto é mais do que a população da Itália (60,59 milhões), e da França (66,9 milhões). A atual ditadura brutal do presidente das Filipinas, Duterte, continua abusando e violando os direitos sindicais e as liberdades civis. Há 5 milhões de trabalhadores agrícolas nas Filipinas que não possuem suas terras e ganham 2,5 euros/dia! Esse é o custo de um Kebab em Neukoelln! Trabalhadores que estavam em protestos ou negociações para afirmar seus direitos trabalhistas foram recebidos com balas, sequestros, assédios e ameaças!   À medida que os efeitos da mudança climática pioram, mais e mais pessoas serão também forçadas a deixar suas casas.  Em 2018, eventos climáticos extremos como a seca severa no Afeganistão, o ciclone tropical Gita em Samoa e as inundações nas Filipinas, resultaram em necessidades humanitárias agudas. De acordo com o Centro de Monitoramento de Deslocamentos Internos, houve 18,8 milhões de novos deslocamentos internos relacionados a desastres registrados em 2017.   Estas três razões principais; pobreza, guerra e mudança climática estão forçando as pessoas a migrar. E o que alimenta estas condições para existir e até piorar é a ganância imperialista e o saque! Fica então claro que nós, trabalhadores, independentemente de sermos migrantes ou locais, sofremos com as mesmas políticas neoliberais e anti trabalhistas que os grandes capitalistas nos impuseram, e em conivência com as elites governantes locais nos países em desenvolvimento, como as Filipinas. Gostaríamos também de aproveitar esta oportunidade para pedir seu apoio ao povo filipino ao exigir a destituição de Duterte, um governante brutal, corrupto, fascista e enganoso. Que este mês Anticolonial seja um momento para condenar e pedir a expulsão de todos os governantes fascistas do mundo de hoje. Aproveitemos também esta oportunidade para ter um momento de silêncio em honra e comemoração de uma companheira nossa, Zara Alvarez, que esteve conosco no ano passado, no primeiro Mês anticolonial. Em agosto passado, ela foi brutalmente assassinada. Seu único “pecado” foi falar a verdade e lutar por uma sociedade melhor. Nesta crise cada vez mais grave do sistema capitalista, não deixemos mais a classe dominante nos dividir com cor, sexo, língua, idade, trabalho e assim por diante. Nós pedimos e desafiamos a todos que estão aqui hoje que tenham coragem, paciência e dedicação para entender as causas de nossos problemas e por que nós, trabalhadores, temos necessariamente que …

  • Quem são os Zumbis da Cracolândia?

    Arte: Heloísa Yoshioka Zumbi é o nome do líder legendário que conduziu a resistência no Quilombo dos Palmares. No centro de São Paulo, no entanto, zumbi é um termo pejorativo para rotular as pessoas em situação de rua que vivem na região da Cracolândia. Uma referência aos cadáveres ambulantes que são antagonistas em um gênero de filmes de horror.  A associação acontece não só pelo aspecto das pessoas miseráveis, esfarrapadas e sem banho, que se aglomeram na parte central da cidade, mas também em uma leitura que a droga elimina a capacidade de pensamento. Assim, é criado um imaginário em que as pessoas deixam de ser seres humanos, podem ser espancadas pela Guada Civil Metropolitana ou internadas à força. Estão possuídas pelos supostos poderes demoníacos da droga. Do mesmo modo que os zumbis dos filmes surgiram a partir de uma releitura racista do voodoo do Haiti. As lendas locais se misturaram a uma visão que encara a religião afrocaribenha como feitiçaria. Ao longo do século 20 os zumbis foram se tornando essa ameaça de uma multidão que se levanta para devorar a civilização. Podem ser alvo de tiros, facadas, lança-chamas e qualquer outro fetiche de violência – afinal, já estão mortos. As massas que se revoltam para destruir a civilização ocidental podem ser vistas como uma lembrança do medo que a revolta das pessoas escravizadas no Haiti trouxe para os corações das metrópoles coloniais. Pelas décadas seguintes foi feito um grande esforço de narrativa para apresentar como uma vitória da barbárie a revolução que livrou a ilha caribenha do domínio colonial. A relação com os mitos dos zumbis e esse terror dos imperialistas já foi apontada por diversos autores.  Uma pista, inclusive, está na Noite dos Mortos-Vivos, de George Romero, filme que em 1968 consagrou o gênero no formato que chegou até a série The Walking Dead. No fim da história, o sobrevivente do ataque da multidão de zumbis, um jovem negro, é morto por uma milícia de homens brancos, que atira antes de checar se o homem era um morto-vivo.  O discurso sobre as drogas funciona para criar essa mesma confusão na Cracolândia. As próprias estatísticas do governo estadual mostram que 28% dos que vivem na região não usam drogas ilegais (a metade usa álcool e a outra metade não usa nenhuma substância). O local é um ponto de encontro para todas as pessoas que não encontram outro lugar na cidade – por terem transtornos mentais, por terem saído arrasados física/psicologicamente da prisão, por terem sido expulsas de suas famílias pela orientação sexual.  O consumo abusivo de drogas surge nesse contexto como uma consequência dessa extrema vulnerabilidade. Por isso, que em outras partes do mundo, as políticas para lidar com esse tipo de situação com mais resultados são as de “moradia primeiro”. Ou seja, toda a estratégia de cuidado é pensada a partir de reduzir as condições que levaram ao uso problemático das substâncias, a começar pela falta de moradia (não os abrigos temporários e albergues). Mas todos os direitos dessa população complexa e plural que ocupa o centro da capital são negados  a partir do discurso da guerra às drogas. Uma construção ideológica que tornou ilegais substâncias usadas milenarmente por culturas de povos submetidos à colonização. A folha de coca, de onde é extraída a cocaína (crack é cocaína fumada) é um produto fundamental para os povos andinos.  A demonização da substância – que ocupa o papel da feitiçaria na criação dos zumbis sem alma – é a forma encontrada para negar as devidas reparações históricas a enorme maioria de pessoas negras que compõe o fluxo da Cracolândia. Ali, as frequentes operações policiais, que opõe soldados fortemente armados contra pessoas que mal tem a roupa do corpo, mostra o tamanho do medo que é evocado por aquelas pessoas, que se unem para continuar existindo. Um temor profundo de que a comunidade dos despossuídos possa se levantar e devorar os herdeiros da colonização. Daniel Mello é jornalista, documentarista e poeta. Militante d’A Craco Resiste e autor do livro Gargalhando Vitória – poemas da cracolândia.

Notícias invisíveis

  • Newsletter do Quilombo Invisível

    Em reação ao imenso levante Black Lives Matter que teve início em maio de 2020 nos EUA, o Facebook vem oficialmente perseguindo páginas anarquistas e antifascistas desde agosto, alegando que grupos de extrema direita e de extrema esquerda devem ser igualmente combatidos. A empresa que também controla o Whatsapp e Instagram se aproveita da preocupação geral provocada pelo fortalecimento da extrema direita através das redes sociais para também censurar as vozes de resistência, equivalendo, em uma distorção macabra, vidas negras importam e supremacia branca. Aqui é importante lembrar que há anos a extrema direita tem se utilizado dessa ferramenta para difundir discursos de ódio, se organizar e eleger seus candidatos, entre eles Trump e Bolsonaro, através de imensas campanhas de fake news. Após à recente invasão do Capitólio nos EUA incentivada por Trump, o Facebook anunciou que irá permanentemente “despolitizar” a plataforma. De acordo com o CEO Mark Zuckerberg, notícias relacionadas a política terão menos visibilidade no feed. Além disso, nas suas próprias palavras, existem inúmeros grupos que ele gostaria que fossem deletados mesmo que não violem nenhuma regra da plataforma. No dia 10 de fevereiro, a empresa declarou o inicio do processo de modificação do seu algoritmo para redução da visibilidade do conteúdo político, com impacto nos feeds de países como Brasil, Canadá e Indonésia, com expansão para os Estados Unidos na próxima semana. Essa censura aberta ao conteúdo político ira afetar de modo severo o material útil a organização e luta dos de baixo. Devemos lembrar que as ferramentas tecnológicas para censura nas redes já foram largamente desenvolvidas e testadas na China desde o surgimento destas redes, e que sua aplicação mais descarada a nível global é uma questão de tempo e de correlação de forças com o acirramento da luta de classes. Não podemos ser ingênuos em relação ao caráter reacionário dos planos das grandes corporações da indústria digital, nem duvidas quanto aos poderes nefastos que o uso combinado e estrategicamente manobrado que a vigilância, coleta de dados, censura e promoção de conteúdos selecionados assumem nessas plataformas, de forma que a independência e a construção de infraestruturas alternativas de comunicação em relação a essas redes se impõem como uma tarefa cotidiana inescapável para a resistência. Nesse sentido, como um dos meios para continuar divulgando ideias, literatura e notícias dos de baixo, nós decidimos iniciar uma newsletter mensal com as atualizações do site. Essa newsletter que iremos enviar conterá nosso conteúdo produzido nesse tempo, além de uma seleção de notícias e outros materiais que consideremos relevantes. Convidamos a todos que gostariam de continuar recebendo nosso conteúdo a cadastrar seu email abaixo: .

  • Entrevista com Talita Nunes, da ocupação da São Remo, na USP

    A seguir, entrevista com Talita Nunes, moradora da ocupação da São Remo, formada por maioria de mães, crianças e idosos que ocuparam no dia 29/01 um terreno abandonado da USP. Apesar de o terreno estar sem sem uso social a mais de 30 anos, o reitor Vahan Agopyan e seu superintendente José Antônio Visitin ameaçam de despejo pessoas sem-teto da São Remo em plena pandemia. E ao final incluímos um breve texto de contextualização. Todo apoio à ocupação da São Remo! Você pode começar se apresentando? Meu nome é Talita Nunes, eu tenho 25 anos, sou moradora aqui da São Remo faz 3 anos, porém eu ando aqui desde os meus 12 anos de idade. Tenho três filhas, uma de 10, uma de 8 e uma bebezinha de 1 ano e 9 meses. O que motivou vocês a ocupar o terreno? Por ele está abandonado. Desde que eu me conheço por gente aqui nunca foi nada, sempre com mato, com lixo, jogado, abandonado… Tem pessoa que é mais velha do que eu e diz a mesma coisa, que aqui nunca foi ocupado para nada, só acumulando lixo, achamos bichos, barata da terra, filhote de rato, ratazana, cobra aranha, aranha enorme… Já tem gente morando no terreno? Sim, tem bastante pessoas. Eu mesmo arrumei umas madeiras que eu vi jogadas em entulho de obra, que eu não tenho condições de comprar. Aí eu fiz com as madeiras, coloquei um sofá, coloquei um colchão e já tô dormindo aqui, já tô morando aqui. Hoje faz uma semana que eu tô aqui, desde segunda-feira. O terreno foi ocupado na sexta-feira passada, não nessa na outra. Qual foi a resposta da USP até agora? Pelo que a gente sabe, eles pediram uma ordem judicial à polícia, né? Pra polícia vir retirar a gente. Por enquanto eles ainda não vieram, veio dois policiais com um rapaz da USP –  não sei dizer o que ele é – tiraram fotos, andaram aqui por dentro, mas depois disso eles não falaram mais nada. Só tem essa questão de que um dia eles vão querer chegar aqui e tirar, mas até agora eles não chegaram e não falaram nada. E de estudantes e professores, teve alguma reação? Dos estudantes só. Eles tão ajudando a gente, todos os dias eles estão trazendo marmitex. Não dá para todo mundo que está aqui, mas já ajuda bastante, lanche, pão, suco… Eles querem ajudar a gente com uma horta aqui também e com trabalho braçal, né? Cavar um buraco, colocar uma lona, porque aqui a maioria não tem condição de comprar madeiras nem telha. Então estamos dormindo debaixo de lona, alguns conseguiu umas madeiras, coloca madeiras em volta, lona em cima. E qual é a situação atual na ocupação? A gente está apreensivo. Cada dia que passa a gente fica pensativo se vai chegar, se não vai. No meu espaço mesmo, eu não saí daqui nenhum dia. Do dia que eu cheguei aqui, eu tô aqui todos os dias, todas as horas, todos os momentos, com medo deles virem e derrubarem tudo. A gente está apreensivo, bem com medo mesmo, porque a gente não sabe como que eles vão querer chegar, né? Se vai ser pacífico, se vai dar tempo da gente sair, se eles vão já chegar fazendo alguma coisa… Qual é a perspectiva futura de vocês? A nossa esperança é que a gente possa cada um construir o seu cantinho, seja de madeira, de bloco… Mas que a gente possa conquistar aqui, colocar água, poste de luz, e que a gente possa residir aqui. Eu mesmo não tenho como pagar o meu aluguel já tem 2 meses e o moço falou que vai pedir a casa, entendeu? Até dezembro eu consegui pagar o aluguel com o auxílio, porém esse mês de janeiro já não teve auxílio, é um aluguel a menos. O meu vence agora dia 10, já são mais dois aluguéis que eu não tô conseguindo pagar por conta disso. Eu não tenho com quem deixar minhas filhas, não tá tendo creche, não tem escola, eu sou sozinha, então é bem complicado. Como as pessoas de fora podem ajudar vocês? A gente montamos uma cozinha aqui, conseguimos um fogão, um gás e a gente está arrecadando alimento. O que vier ajuda a gente aceita, seja arroz, feijão, ovo, mistura… Porque faz para todo mundo, não faz só para um para outro, é para todo mundo, então a gente tá precisando mais disso. Água, bastante água, porque a gente está tendo que pegar em um lava-rápido para poder colocar aqui em umas garrafas que foi comprada. Então a gente precisa de ajuda nisso. Eu fiz com os estudantes da USP um cartaz e coloquei o meu pix (11970680035) pra quem quiser fazer a doação em dinheiro. Vai ser tudo repassado para isso: para comprar as coisas para cozinha, lona para quem não tem condições… Tem muitas pessoas aqui que não tem condições de comprar lona, de nada, então a gente tá arrecadando isso também. E tudo isso vai ser comprovado, com comprovante, notinhas e tudo mais. Tem mais alguma coisa que você quer dizer? Para eles serem solidários e estabelecer aqui para gente. Porque querendo ou não, a gente estamos aqui há bastante tempo e a gente que fez a limpeza do terreno, o lixo tá sendo tirado por nós mesmo, os bichos… Tá tudo sendo tirado por nós mesmo porque eles mesmo falam que é da USP, que eles têm um projeto, mas que projeto é isso que eles não têm cuidado do terreno que é deles? Então já que eles não vem cuidar, a gente estamos aqui para isso, para cuidar e garantir uma moradia para gente. Porque é aquilo que eu falei, eu mesmo já to com meu aluguel 2 meses atrasado, tem pessoas que tá a mais tempo, tem pessoas que não têm o que comer, ou trabalha para pagar o aluguel ou para comer. Então tá bem complicado, entendeu? Tem pessoas aqui já com …

  • Felipe Quispe Huanca, o condor dos Andes: Um pouco sobre a vida e morte do grande líder aymara boliviano

    Felipe Quispe Huanca vive y vuelve! “Por principio estoy luchando y voy a seguir luchando hasta mi muerte, si es posible debajo de la tierra voy a seguir gritando” Felipe Quispe Huanca (El Mallku) 1942-2021 A penúltima vez que o vi foi no dia 23 de janeiro de 2020, durante o aniversário da província aymara de Omasuyos (de Uma água e Suyo território, é conhecida assim por sua localização às margens do lago Titicaca), Felipe Quispe Huanca estava vestido como os milhares de ponchos rojos (ponchos vermelhos, vestimenta característica das autoridades indígenas desta região) que estavam ali presentes, um chicote branco de autoridade atravessava seu corpo e o chapéu preto tão distintivo estava posicionado sobre os cabelos grisalhos. Era quase impossível reconhece-lo ali, só nos demos conta quando alguns jovens indianistas-kataristas [1] se aproximaram de Don Felipe, cumprimentaram-no, falaram por alguns minutos e se afastaram, enquanto ele voltava para a conversa coletiva com as demais autoridades que se posicionavam em torno de um apthapi coletivo (comidas feitas por um coletivo de pessoas para serem compartilhadas durante algum evento importante) que abastecia as mãos dele com chuño (batata desidratada dos andes) e ora queijo, ora um pedaço de carne. Felipe Quispe Huanca (como gostava de ser chamado evidenciando o Huanca que herdou da mãe), foi eleito autoridade de Ajllat’a Grande (pertencente ao município indígena de Achacachi e à província de Omasuyos) durante o ano de 2020. Ele acabava de receber o “cargo” com as devidas responsabilidades coletivas que designava, dentre elas a de estar ali representando a comunidade [2]. E foi assim, até o último suspiro no dia 19 de janeiro de 2021, que Felipe Quispe Huanca esteve ao lado do seu povo aymara: lutando, pensando, produzindo a terra, aceitando o “cargo” [3] de autoridade na comunidade, escrevendo e gritando. Felipe ficou conhecido na sociedade boliviana como El Mallku, palavra que em aymara tem muitos significados, pode ser utilizada para fazer referência a uma grande autoridade, mas em sua tradução literal significa “condor”, a maior ave dos andes que encanta pela força e precisão dos voos, além de ser muito respeitada pelos aymaras e quéchuas como símbolo importante de suas histórias. Entre as frases conhecidas de Felipe Quispe está: “podem privatizar as montanhas, mas nós condores seguiremos voando”, evidenciando o que, mais do que uma metáfora, é uma associação ontológica de vida e de luta. Para compreender a história deste grande líder aymara, que colocou o corpo na luta em muitos processos conflitivos da história contemporânea boliviana, é preciso voltar para o século XVIII, precisamente em 1781, ano em que o aymara Tupak Katari ao lado da companheira Bartolina Sisa fizeram um cerco à cidade de La Paz exigindo direitos aos povos indígenas, como a extinção do tributo indígena que mantinha a economia do Império do Alto Peru (território atualmente conhecido como Bolívia) explorando os indígenas, e a aniquilação das formas de trabalho especificamente indígenas como a mit’a e a encomienda. O cerco mais importante aconteceu no território onde hoje se encontra a cidade de El Alto e, ao ser capturado, Tupak Katari foi esquartejado, partes do corpo foram enviadas para os pontos indígenas mais rebeldes, como forma de amedrontá-los e impedir possíveis insurreições. O braço esquerdo foi levado para Achacachi, considerado um dos pueblos indígenas mais insurgentes, e foi lá, em 1942, que nasceu Felipe Quispe Huanca. A referência a Tupak Katari seguiria tanto nos escritos de Felipe – um exemplo é o conhecido livro “Tupak Katari, vive y vuelve… carajo” – como na luta política no movimento tupak-katarista. A famosa última frase de Tupak Katari ressoa nos movimentos políticos aymaras e quéchuas até os dias atuais: voltarei e serei milhões! É difícil construir uma biografia exata e datada de Felipe Quispe Huanca, sobretudo porque ele foi exilado nos anos 80 (durante o golpe na Bolívia) em El Savador, Guatemala, México e outros países da América Latina (cf. Machaca Nina, 2021, p. 4) o que o colocou por muito tempo na clandestinidade. Entretanto, existem episódios que precisam ser evidenciados como a eleição para dirigente sindical agrário da comunidade Jisk’a Axariya em 1971, a eleição como Secretário de Organização da Federação Departamental Única dos Trabalhadores Camponeses de La Paz “Tupak Katari” (FDUTCLP “TK”) em 1984 e como Secretário de Relações Internacionais da Central Obrera Boliviana em 1986 (QUISPE, 1999). Ainda em 1978 foi um dos fundadores do Movimiento Indio Tupak Katari (MITKA), após a dissolução dos governos militares e dos conflitos com o coronel Hugo Banzer, sobre isso o intelectual aymara Carlos Macusaya evidenciou em suas redes sociais no dia 24 de janeiro um documento do MITKA4 que colocava a possibilidade de um Estado Plurinacional em debate (cf. COPA, 1978), o que desmistifica as leituras de que a Plurinacionalidade é uma proposta proveniente do Movimiento al Socialismo (MAS). Sustentando, em todos estes momentos, o compromisso com a nação aymara e com a luta antirracista e anticolonial, e carregando os símbolos aymaras como a bandeira multiquadriculada Wiphala. Para o filósofo e ex-membro do Grupo Comuna, Raul Prada Alcoreza [5], as ideias de Felipe Quispe Huanca foram influenciadas tanto por Tupak Katari, como uma “memória longa vinculada com a memória singular e particular de Felipe” (tradução minha), quanto por Fausto Reinaga (1906-1994, quéchua-aymara e um dos fundadores do movimento indianista) que, segundo Prada, é um “filósofo descolonizador adjacente e coincidente com Frantz Fanon”. A influência de Reinaga se expressou na fundação do Partido Índio e nas ideias de textos como La Revolución India (1971) que lê o país dividido em dois: A Bolívia dos q’aras [6] (brancos) e a Bolívia dos índios. Em 1986 El Mallku criou a Ofensiva Roja de los Ayllus Tupakataristas, mais conhecida como Ayllus Rojos, movimento que defendia uma revolução indígena por meio da revolta armada. O livro que seria lançado anos depois (“Tupak Katari vive y vuelve… carajo”, 1988) traz alguns elementos referenciais que explicam o vínculo de Felipe com a luta armada, especialmente com a figura de Diego Quispe, militante aymara das frentes de Tupak Katari …

  • Reflexões na preparação da greve dos caminhoneiros de 2021

    Segunda-feira, dia 01/02/2021, amanhã, começa a greve nacional dos caminhoneiros. O chamado da greve tem causado polêmica e desinformação no debate político. Da esquerda vemos acusações de que a greve é feita por bolsonaristas, que é um movimento com excessiva influência patronal e que estaria fadado a reforçar o fascismo. Já pela direita, a greve é acusada de ser uma conspiração de sindicalistas de esquerda para golpear o governo Bolsonaro – circulam nas redes uma variedade de memes de fakes news com essa tese, em alguns destes memes se afirma, por exemplo, que MST e MTST estariam coordenando bloqueios a nível nacional no dia 01/02 para forçar os caminhoneiros a pararem – e o próprio presidente Jair Bolsonaro já veio a público mais de uma vez para pedir que os caminhoneiros não façam greve nesse momento. Em nota, o Ministério da Infraestrutura desqualifica a convocação da greve dizendo que as entidades que a convocam não seriam verdadeiramente representativas da categoria, afirmando o “caráter difuso e fragmentado da representatividade do setor, seja regionalmente, seja pelo tipo de carga transportada” e que “nenhuma associação isolada pode reivindicar para si falar em nome do transportador rodoviário de cargas autônomo”.  Os próprios caminhoneiros parecem de fato estar divididos quanto à greve. A convocação da paralisação tem sido atribuída a entidades representativas como a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística (CNTTL) e a Associação Nacional do Transporte Autônomos do Brasil (ANTB), a greve também conta com apoio declarado das duas principais federações de petroleiros a Federeção Nacional de Petroleiros (FNP) e a Federação Única dos Petroleiros (FUP), que já convocam atos de apoio em várias cidades. Observando a movimentação através de diferentes grupos em redes sociais, noto que apesar de ser real a profunda fragmentação da categoria, há toda uma diversidade de figuras convocando a greve, demonstrando ser falsa a afirmação de ausência de representatividade na convocação (é interessante ver esse vídeo da página treta no trampo que mostra caminhoneiros de diferentes Estados em apoio a greve). Por outro lado, há também uma ampla variedade de reconhecidas figuras da categoria desmobilizando a greve, de forma que se torna extremamente difícil mensurar qual será a potência real da mobilização que se inicia amanhã. A mera ameaça da greve, no entanto, já arrancou algumas conquistas do governo, que tenta assim enfraquecer o movimento. O governo zerou o imposto para importação de pneu, realizou um aumento na tabela dos preços mínimos do frete em valores de 2,34% a 2,51%, incluiu os caminhoneiros e motoristas no grupo de prioritários para receberem a vacina contra a Covid-19, e também, prometeu revisar a fiscalização de multas por sobrepeso, diminuir os valores de pedágios e outros pontos menores. De outro lado o temor a greve já fez se iniciar a repressão do Estado, o judiciário de São Paulo proibiu o travamento das rodovias Régis Bittencourt e Presidente Dutra durante a greve, estabelecendo multas diárias de R$ 100 mil para entidades e de R$ 10 mil para pessoas físicas. Mesmo que não existam motivos para ser otimista, fato é que os próximos dias serão decisivos para os rumos da luta de classes no Brasil. Os dois grandes trunfos da greve dos caminhoneiros O primeiro grande trunfo do movimento é a principal pauta da greve: a redução do preço do diesel. Ela impacta e unifica os interesses econômicos de uma poderosa composição de trabalhadores, todos aqueles que trabalham diretamente com o combustível, como motoristas de aplicativos, entregadores, taxistas, motoristas de vans, barqueiros (cuja entidade representativa ja declarou apoio a greve), frentistas, vendedores de gás e petroleiros. A greve dos caminhoneiros de 2018 mostrou como esses setores podem atuar juntos na prática grevista a partir do despertar da ação direta a nível nacional dos caminhoneiros. Além disso, a alta dos combustíveis é um dos grandes fatores que causa a escalada inflacionária que tem afetado os produtos alimentícios como arroz, feijão e carne. Fazendo, portanto, com que essa greve também possa ecoar em uma luta mais ampla e popular pela redução do custo de vida.  A pauta da redução do preço dos combustíveis, que seria a pauta “salarial” mais forte da greve, além de ser uma pauta econômica no atual contexto, vira também uma pauta política, por atacar frontalmente a política econômica de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes, que tem promovido a desvalorização cambial que causa a atual escalada inflacionária que encarece o custo de vida dos trabalhadores para beneficiar a alta burguesia. Devido a sua imensa importância, a pauta de redução do preço do diesel tem sido alvo de intensas disputas. Algumas entidades representativas dos caminhoneiros e da parte da esquerda que apoia o movimento defendem que a redução deve ser conquistada pelo fim da política de preços adotada desde 2016 pela Petrobras (a política de Preços de Paridade de Importação, PPI), que encarece os combustíveis ao equiparar seu preço ao mercado internacional medido em dólar. Essa reivindicação é melhor explicada na publicação “Por que apoiar a greve dos caminhoneiros? ” do jornal Cavalo Doido, um jornal dos entregadores e motoristas. A possibilidade de mudança na política de preços da Petrobras poderia gerar efeitos de mais longo prazo e que impactam diretamente no bolso da maioria da população brasileira, seria além disso a maior derrota política e econômica em décadas das grandes transnacionais do Petróleo, assim como dos setores exportadores e financeiros da alta burguesia brasileira.  De outro lado, Jair Bolsonaro disputa o movimento com o discurso pela redução de impostos, sugerindo que os preços caiam pela redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que é cobrado pelos Estados (e, portanto, direciona o movimento a bater nos governadores) e chegou a acenar com a possibilidade de redução de impostos federais como o PIS e a Cofins, desonerando os combustíveis. A pauta de redução de impostos favorece mais os grandes empresários e transportadores do que os trabalhadores, pois se a redução do preço do combustível é sentida diretamente nas bombas dos postos de gasolinas por trabalhadores de todo país, a …

  • A “solidariedade” da Venezuela a Manaus e a White Martins

    Vivemos um dos momentos mais lastimáveis para o povo pobre e trabalhador, que é a epidemia do novo coronavírus, a famosa e perversa covid-19, que já bate mais de 200 mil mortes no Brasil. Diante desta catástrofe se soma a negligência, o negacionismo e a confusão da polarização sobre o vírus mais letal do século, vindas por parte do próprio governo. Governo este que durante a pandemia zerou o imposto para importação de armas enquanto elevou o imposto para importação de oxigênio em plena pandemia. A situação se agravou e, em questão de semanas, faltaram vagas nos hospitais e covas nos cemitérios – isso para o povo que trabalha, porque para os ricos, teve até atendimento aéreo. Recentemente o caso de Manaus tem despertado a revolta contra esse massacre governamental aos pobres. O Estado do Amazonas que já sofreu mais de 6 mil mortes oficiais pela pandemia (números obviamente subnotificados), teve sua situação drasticamente agravada nos últimos dias devido à falta de cilindros de oxigênio, aprofundando a lógica da exclusão, eliminação e massacre da população trabalhadora nesse momento. Na mesma época em que a situação começou a se agravar em Manaus, o ex-senador e ex-prefeito Arthur Virgílio Neto, do PSDB, contraiu o COVID-19. Ele pegou um voo direto para São Paulo, ficando internado 31 dias no Hospital Sírio Libanês – o hospital mais caro do país – diferente do povo, que agora está sendo sufocado pela falta de cilindros de oxigênio. A recente repercussão sobre a solidariedade do governo venezuelano que permitiu que o Brasil importasse tubos de oxigênio, que doou remessas de oxigênio e enviou médicos, não esconde o fato de que vivemos em um sistema capitalista no qual a Venezuela se inclui, ao contrário do que as ilusões geopolíticas da esquerda frequentemente querem fazer acreditar. Por mais louvável que seja a ajuda humanitária da Venezuela para Manaus, com todo o compreensível gozo gerado pelo constrangimento ao governo genocida de Bolsonaro. A esquerda esquece que a culpa da tragédia não é apenas da política genocida do Estado brasileiro, que já sabia com dez dias de antecedência que o oxigênio iria acabar em Manaus, mas é sobretudo da própria indústria farmacêutica que tem batido recordes de lucros com a pandemia sem se dar o trabalho de sequer garantir a demanda de itens essenciais, pelo contrário, tem lucrado mais com a carência de insumos básicos, o governo brasileiro neste contexto tem sido coerente a essa lógica capitalista onde os lucros importam mais que vidas. A empresa responsável pela produção e distribuição do oxigênio médico em Manaus (assim como a maior do setor na Venezuela, país de onde a White Martins também agora exporta oxigênio para sua filial do outro lado da fronteira) é uma empresa privada do setor químico, a multinacional White Martins, que pertence ao grupo Linde plc, conglomerado de empresas alemãs e americanas sediado na Irlanda. Seu histórico segue as características da classe patronal: crimes laborais, negociatas nos parlamentos, acúmulo de capital de gerações e gerações de trabalhadores e rapinagens. Homens, mulheres e até crianças passaram por dentro das fábricas, produziram e foram descartadas que nem um nada. No começo dessa crise sanitária, com uma doença avassaladora, esta empresa foi uma das grandes empresas a crescer assustadoramente nas vendas de ações, depois de inúmeros diagnósticos feitos por profissionais da saúde de que um dos sintomas causados pelo vírus é a falta de ar. O crescimento econômico da empresa é justificável com a demanda: vendas de tubos de oxigênio médico para Estados nações e hospitais privados. Em outras palavras, super lucros com a desgraça, a exploração e a morte. Em uma rápida pesquisa na internet encontramos como a empresa White Martins se negava a pagar adicional de insalubridade a trabalhadores expostos a situações de risco e foi condenada na justiça depois de ação do sindicato dos trabalhadores químicos, a realizar esses pagamentos desde o fim de julho de 2020. Também encontramos uma notícia sobre uma paralisação feita nas fábricas da White Martins em Campinas e Paulínia (SP) devido a empresa ter desrespeitado o acordo de reajuste salarial dos trabalhadores. Outra notícia, um pouco mais antiga, de 2009, do Sindicato dos Metalúrgicos da Região Sul Fluminense, mostra como a unidade local da White Martins estava desrespeitando os trabalhadores com demissões injustas e o não pagamento do adicional de insalubridade. Encontramos também um jornal do Sindicato dos Petroleiros do RJ convocando uma ação popular contra a venda de participação no setor de gás da Petrobras para a White Martins, assim como diversas irregularidades praticadas pela empresa, incluindo diferentes condenações, como multas por formação de cartel e por  superfaturamento na venda oxigênio para hospitais públicos em Brasília,  Rio de Janeiro, e inclusive para o Hospital Central do Exército também no Rio. Os recentes aumentos do preço do gás de cozinha, que se estima que pode atingir de 150 a 200 reais a unidade nos revendedores em 2021, tem o dedo da White Martins. Em 2020 ela conseguiu aumentar sua influência na Petrobras (fechando o mesmo acordo de compra de 40% da Gás Local que o jornal de 2006 que citamos acima dos Petroleiros lutava contra). Acreditamos que a triste situação que vive o Brasil durante a pandemia é culpa desse sistema capitalista que põe os lucros privados de um pequeno número de capitalistas nacionais e internacionais acima da vida da maioria da população. Nesse cenário onde a sabotagem patronal ou estatal e o lobby tem dado as cartas, é urgente lembramos que a solidariedade entre os de baixo é a única capaz de criar novos sentidos pra vida para além da acumulação de capital, tornando possível pensar em nos reapropriar da produção necessária para reprodução da saúde e da vida. Somente abandonando as ilusões com falsos salvadores Estatais ou empresariais, com laços de solidariedade reais entre os de baixo, com o fortalecimento de nossas organizações, lutas e da nossa autonomia, poderemos voltar a pensar em um mundo em que a vida seja mais importante do que o lucro. Por Helder Aguiar entregador …

  • Quanto vale as nossas vidas para USP?

    1. A situação de estudantes cruspianos Desde a “crise fiscal” declarada pela Universidade de São Paulo (USP) em 2014, a universidade pouco tem feito pela ampliação de políticas de permanência estudantil.[1] Pelo contrário, ao invés de melhorar, o que vem se presenciando é um processo contínuo de degradação da infraestrutura do Conjunto Residencial da USP (CRUSP), destinado a estudantes de baixa renda. Essa degradação está associada com a redução do quadro de funcionários encarregados de realizar as manutenções necessárias do CRUSP, a intensificação do trabalho de funcionários que não foram demitidos e a precarização via terceirização. Essas mudanças no quadro se devem aos programas de PIDV (Programa de Incentivo à Demissão Voluntária) realizada pela reitoria justamente para cortar “gastos” e que foi responsável pela demissão de mais de 3600 funcionários.[2] Em uma de suas declarações, o atual reitor, Vahan Agopyan, em entrevista ao Jornal UOL, declarou que a Universidade não deveria assumir um papel “assistencialista” que, supostamente, ela vinha assumindo cada vez mais em decorrência da aprovação das cotas. Segundo ele, esse aumento do seu papel “assistencialista” estaria expresso nos números de parte do orçamento da universidade destinado à permanência, que teria passado de R$ 170.724.142,00 em 2013 para R$ 217.378.575,00 em 2017.[3] Contudo, na contramão dos altos gastos, apresentados com pouca transparência na execução orçamentária, o que se percebe nesses últimos 6 anos é.uma intensiva piora nas condições de permanência de estudantes pobres e negros na USP. Um teste empírico pode ser feito simplesmente andando pelo CRUSP, entrando em suas cozinhas, lavanderias, olhando para a estrutura dos prédios, e percebendo facilmente que não está sendo feito o básico: a manutenção da infraestrutura do CRUSP. A paisagem, dessa forma, é de lavanderias sem funcionamento, cozinhas com fogões sem bocas, pias sem torneiras, prédios com rachaduras, infiltrações e com constante falta de água em blocos inteiros. Situações marcantes da história da residência estudantil também contrastam com os muito gastos mencionados pelo reitor. Basta lembrarmos que, em setembro de 2017, um apartamento do CRUSP no Bloco G pegou fogo. Na ocasião, o alarme de incêndio além de demorar para ser acionado, quando disparou, o seu som foi tão baixo que não permitiu que os moradores ouvissem e evacuasem o prédio. O apartamento que pegou fogo, aliás, não continha velas acesas, incensos, fogão ligado ou qualquer tipo de chama que pudesse ocasionar um incêndio. Sendo assim e, levando em consideração a ocultação da Superintendência de Assistência Social da USP (SAS) sobre os resultados da perícia feita acerca da tragédia, tudo levou a crer que o que ocorreu estava relacionado com a precarização da infraestrutura.[4] Outro fato marcante foi a retirada, em 2019, do passe estudantil de moradores do CRUSP, o que significou, na prática, inviabilizar estágios, realização de disciplinas fora do campus e de acesso à cultura em geral.[5] Quer dizer, a USP, na prática, desmontou o seu tripé estruturante que consistia em “Educação, Pesquisa e Extensão” para estudantes pobres. Outro exemplo histórico, por fim, é sobre a ampliação do acesso à Universidade pela aprovação das cotas que não se deu com uma contrapartida na ampliação do número de vagas do CRUSP para atender o aumento na demanda por moradia, conforme mostram os dados adquiridos por meio da Lei de Acesso à Informação sobre os pedidos por moradia e as vagas concedidas atenção para o fato de esses dados serem anteriores à aprovação das cotas): AnoInscritosVagas Concedidas201524832272016305723020173832165 Esse processo de precarização configurou o cenário do CRUSP ao longo da Pandemia. A USP pouco fez: não providenciou manutenção das cozinhas, lavanderias e nem a instalação de internet. As marmitas, além de serem feitas por trabalho precário das terceirizadas, são igualmente precárias do ponto de vista nutricional[6]. Os modems disponibilizados demoraram para chegar, fazendo com que muita gente tenha perdido boa parte das suas aulas. Os suportes de álcool em gel instalados no início da pandemia encontram-se vazios há meses. Assim, não ocorreu nem mesmo a manutenção das medidas sanitárias adotadas no início da quarentena pela Reitoria. Assim, contrariando o discurso do Reitor de que houve ampliação das políticas de permanência, discurso que alimenta outros ainda mais estúpidos como os que responsabilizam os próprios moradores pela precarização, o que se verifica é uma precarização politicamente assistida, isto é, que causadas pelas medidas de austeridade adotadas pela USP a partir de seus órgãos de deliberação, como o Conselho Universitário, e que abre caminho para a expulsão seja direta, na medida em que há um papel ativo da SAS na perseguição e ameaça de estudantes que moram de maneira irregular na moradia, dada a falta de vagas, e de estudantes regulares, que são ameaçados por acolherem estudantes ingressantes que precisam de moradia[7]; seja indiretamente, tornando inviável morar no CRUSP dado sua precariedade, conduzindo à evasão.[8] O descaso com a vida de seus estudantes pobres, por fim, se mostra patente com a decisão arbitrária da USP de sediar, dos dias 19 a 24 de Novembro, o Boat Show, maior evento náutico da América Latina, destinado à venda de barcos que chegam à 30 milhões de reais e que irá atrair cerca de 30 mil visitantes. A USP ganhará 400 mil reais para sediar o evento, enquanto o lucro do evento é previsto em 260 milhões de reais. 2. Precarização do trabalho em plena quarenta: neomalthusionismo uspiano? Em plena pandemia, a USP apertou o torniquete de suas trabalhadoras e trabalhadores, sobretudo os terceirizados. A USP, em agosto, anunciou o corte de cerca de 25% dos contratos com as empresas terceirizadas.[9] O que significou que muitos trabalhadores perderam seus empregos em plena pandemia. Além disso, os que ficaram, foram submetidos a um trabalho mais intenso e precário, sem EPI’s (Equipamentos de Proteção Individual) adequados. Além disso os trabalhadores de segurança da empresa Albatroz estão tendo que fazer jornadas extras sem aumento da sua remuneração. Em decorrência das demissões, além de fazer a segurança das portarias, estão fazendo a segurança do CRUSP e, ainda pior, são também obrigados a fazer a segurança do evento BOAT SHOW, uma farra para venda …

Letras Invisíveis

  • Leão tomado pela fome

    Arte de Moni Bardot Poema e arte por Moni Bardot – 23 anos, mulher preta e periférica, moradora do bairro Jaçanã/ZN. É artista de rua, atriz, poetisa e pintora. Faz parte de dois coletivos de teatro, cujo nome Bando Jaçanã e Coletiva Luz 14Horas.Intervenção gráfica por Emily Barbosa – Moradora da Vila Formosa, Zona leste de São Paulo, Feminista interseccional, desenvolvedora web, estudante de relações internacionais e militante do coletivo quilombo invisível. “ A interseccionalidade do mundo é o que me move e o que me faz construir de forma ativa”. faz frio lá fora e aqui dentro parece nevar ao que tudo indica estamos no Brasil e são exatos 3h da manhã queimei o dedo fumando cigarro barato hoje senti a tal da velha infância, aquela que passa despercebida mas que quando passa é notada a falta não entendo porque escrevo o que penso… enfim, a lua mais uma vez apareceu e como sempre misteriosa.. pode parecer idiotice, mas eu a sinto vagarosamente ela me segue, num jogo bruto de observar . . cheguei na casa dos meus pais, como um leão tomado pela fome comi cara, sempre que sinto fome emano vibrações pra minha mãe mentalizo..arroz, feijão, repolho ou chuchu e quem sabe até batata frita, sei lá, mas parece que ela adivinha . . furei a quarentena e não me sinto mal, mesmo sabendo que me coloco e coloco os outros em risco, senti do fundo de mim que precisava sair, o egoísmo me venceu minha mente anda tão fodida “parece que o céu vai desabar sobre mim” andei falando coisas que não devo, normalmente é sobre amor não entendo, por que eu ainda insisto? às vezes falta respeito da minha parte por parte minha falta respeito falta respeitar o meu eu . . que saco! são só bobagens, são só bobagens não ditas . . às vezes sinto medo um medo bobo, um medo careta, um medo juvenil, um medo covarde medo do que sou capaz . . são exatos 3h33 estou sem sono, mas com a mente cheia de palavras turvas muitas eu não sei o significado vou dar um GOOGLE

  • Autocuidado

    Grafite de Nayara Amancio @_pocas.pretacharme Viro meus olhos ao avesso pra eu poder me enxergar com um pouco mais de apreço. Hasteio bandeira branca no topo da cabeça, para que minha mente não mais enlouqueça com minhas guerras internas.  Meu cessar fogo é energizar meu corpo através das forças da natureza. Curandeira de mim, inicio o dia com chá de alecrim. Grito Eparrey oyá e seus ventos vêm como um abraço pra me acalentar, os sopros tocam minhas feridas pra ajudar a cicatrizar. Eu decidi que vou me apaziguar. Abaixo as armas da auto sabotagem, que é pra dar menos tiro no pé. Procuro cuidar melhor da minha fé, removendo as balas da amargura e erguendo as armaduras do amor próprio. Não é fácil,  é um trabalho árduo, diário e solitário.  Grafite de Nayara Amancio @_pocas.pretacharme Pra minha sobrevivência, procuro a consciência de que eu não tenho poder sobre meu passado, mas sim sobre meu presente e meu futuro. Por isso, destruo os muros do pretérito que enrijeceram meu coração. O amor acabou no momento que a barriga cresceu, quem dizia fechar comigo não fechou. Típico do homem fraco, de espírito opaco, que pouco sabe sobre responsabilidade, e na hora que a vida exige um pouco mais de habilidade, as pernas bambeiam, não segura o rojão e se esconde que nem muleke fujão pra debaixo da saia da mãe. No nascimento do filho, tava na festa com os amigos. Dei o salve e não fez nem questão. E pra somar, a violência obstétrica que veio pra deixar sequelas, a cicatriz da episiotomia não autorizada me lembra através da dor que um momento que deveria ser sagrado, se tornou de muito malgrado, um trauma que eu trabalho pra que seja superado.  De Nayara Amancio @_pocas.pretacharme E pra ressignificar, se o tempo fecha, a solução pro meu peito aperreado é vir cortando a tristeza com machado.  Enquanto corto as raízes do meu próprio mal, entendo que chorar não me torna um ser vulnerável. Na verdade, chorar me retorna ao nível  estável. Quando necessário, meus olhos águam, e dependendo do dia, até trovejam. As dores correm junto com  as chuvas, e assim, as passagens se abrem menos turvas. Meu corpo pediu pra eu repensar a estratégia, porque as guerras internas estavam adoecendo as pernas, tava ficando difícil de andar…  Por isso me resgato e me cuido, prestando atenção em cada descuido, que é pra não descuidar mais de mim e ficar viva mais um dia. Por Nayara Amancio, 25, anos, moradora  do bairro Sol Nascente na Zona Oeste.  Mãe do Cauê e ativista na luta materna. Também grafiteira tendo como vulgo Pocas. Para conhecer meu trabalho no Instagram @_pocas.pretacharme

  • Segunda

    Nesta manhã abrir os olhos e simplesmente se levantar foi algo difícil para ele. Mas assim o fez, como fez também todos os demais gestos e movimentos mecânicos que fazemos ao acordar, gestos estes que vez por outra eram intercalados com caretas, sussurros, palavrões e lágrimas imperceptíveis, mas que certamente lhe molharam retina a dentro. O momento sagrado do banho lhe deu a deixa para recordar daquela sua outra vida, na qual é possível morrer saltando de paraquedas, despencando para sempre num abismo inexplicavelmente fundo ou por balas disparadas por um transeunte qualquer. E, mesmo após tantas torturas e mutilações, essa sua outra vida lhe permite sempre recomeçar, íntegro, sem cicatrizes ou sequelas. Esta dimensão ímpar de sua existência na qual passado, presente e futuro se fundem, perdem as bordas, na qual o campo do possível sempre dá as caras, é o que por falta de termo melhor denominamos sonho.  E assim, com o cair das primeiras gotas de água quente no piso opaco do banheiro, sua mente foi tomada por um transe silencioso, cheio de névoa, cor e desejo. O ato de fechar os olhos lhe despertou o ouvido interno, começou a escutar uma música que vazava pelas paredes. Ainda de olhos fechados se perguntou de onde este som vinha, tentou distinguir o ritmo que se confundia ao barulho do chuveiro  e com a água que caia em sua cabeça. Não tinha dúvidas, entretanto, de que a música tinha algo de urbano, algo de dançante, algo de noturno. Talvez uma transa entre o Hip-Hop e o Jazz.  Pensou que estivesse voltando a dormir, mas logo percebeu que estava apenas lembrando do sonho da noite anterior. Respirou fundo… se desinteressou por tudo aquilo. Ele nutria a opinião de que os sonhos em muito atrapalham a vida, pois neles quando não estamos em apuros ou a ponto de morrer por alguma coisa idiota e sem explicação, somo levados a acreditar que vivemos uma vida infinitamente mais saborosa que a nossa. Expirou… e este gesto mudou o seu dia.  Quando as camadas da memória já recobriam com indiferença a paisagem onírica de nosso amigo, o ato de jogar o ar para fora fez com que um solo de flauta irrompesse, e essa associação espontânea fez com que o deleite do sonho se instalasse de vez em seu corpo-mente. De repente se viu em uma sala, viu garrafas de bebida, viu pessoas a conversar. O ar estava quente, o ânimo de todos ali vibrava e parecia fazer coro com a música que saia dos altos falantes. Olhou suas mãos, riu, percebeu que estava chapado, e feliz. Riu mais um pouco,  até ser cortado por uma voz que disse: É antes o caos quem inventa as melhores ordens! Nada sossegaNem coisa, nem genteMas tudo sucede. Trações, interações e dispersõesO ciclo das coisasOs gestos da menteAs forças que conduzem a inquietação humana pelo espaço-tempo. Ouviu aplausos, e aplaudiu também. Antes que pudesse terminar de assimilar o sentido das palavras anteriores, ele foi chamado ao palco. Subiu, disse alguns versos e agradeceu a atenção dos presentes. Desceu do palco pensativo, ciente de que poetas morrem pobres mas que sabem amar a vida como poucos.  Abruptamente toda essa miríade de imagens foi embora pelo ralo. A consciência do tempo lhe puxa novamente a esta vida cronologia, lógica, na qual há prazos, metas, hora de entrada e hora de saída do trabalho. Diferentemente das regras e convenções que pautam o dia-a-dia nas empresas, escolas, faculdades e comércios, a temporalidade interna de nosso amigo não se guia pelo ponteiro do relógio, é antes um mar sem praias, fim ou começo. E sua consciência percorre lugares sem precisar da ajuda de avançados serviços de localização, pois ele não se esqueceu que as fronteiras sempre foram linhas imaginárias.  Mochila feita, cama arrumada, gato alimentado, tênis no pé, café em uma mão, primeiro cigarro do dia na outra, a certeza de que o pequeno atraso por conta do banho demorado vai lhe custar o lugar no ônibus, um olhar condescendente do chefe e alguma desculpa sincera porém inventada. Andando pela rua, os versos que disse em sonho se insinuaram, cairam por seus lábios: Há dizeres que cauterizam feridasHá dizeres que abrem veredasHá palavras bálsamo, que realizam o lutoHá palavras ato, que convocam à luta Há gramáticas esterilizantes, que se irmanam da morteHá gramáticas pulsantes, que se convertem em vida Deu uma gargalhada, a lembrança inesperada o deixou surpreso, meio besta. Anotou rapidamente as palavras em seu caderno e quase perdeu o busão. Deu sinal, entrou, por sorte ainda havia um lugar vago, mas isso agora pouco importava, pois neste dia viveu mais no sonho do que na realidade. Por Gutto – Sobrevivente do extremo sul de SP, observador da vida que como tinta teima em colorir as esquinas desbotadas das bordas do capital; amante das palavras e sofredor, logo poeta; preocupado com a alquimia das ideias, me fiz filósofo, por diversão e por necessidade; incomodado com a nossa subalternização diária, sou mais um daqueles pretxs, pobres e putos que dizem não.

  • Uma Nota da Carta ao Pai

    Uma das coisas que mais me intrigaram nos últimos tempos pensando nos processos das masculinidades é justamente o de perceber uma figura central na experiência do ser homem, a figura do pai. É evidente que nascemos e crescemos nos espelhando nas ações, práticas, conversas e tratamentos que nossas mães e pais dedicam a nós, afinal chegamos a esse mundo nus, uma nudez de experiências e valores que são passados pelo convívio das relações humanas. Mas, o diferente é perceber o quanto a figura do pai tem toda uma grossa camada de importância sentimental no processo de se entender e ser entendido como homem, isso é, seja relacionada com a presença, mas também a ausência da figura paterna masculina, sendo ela física ou afetiva. Com certeza, observar a paternidade como um dos maiores eixos, e em algumas visões o principal, da formação da masculinidade, está diretamente ligada com o se perceber como uma engrenagem num sistema de reprodução de valores sociais, que na família nuclear ocidental é a reprodução de uma masculinidade centrada no patriarcalismo, com duras expressões do machismo e com uma obrigatoriedade de assumir um papel de gênero historicamente e geograficamente delimitado, e que é o propulsor de uma série de ações e memórias em muito traumáticas para todos os que compõem o núcleo familiar, o agressor e a estruturas sociais. É nesse sentido que Franz Kafka, escritor tcheco e pequeno burocrata judeu, materializa toda a sua dor, indignação e tristeza… Emoções das duras vivências em sua relação com seu pai, que descreve em sua “Carta ao pai” de 1919. Kafka a escreveu como uma forma de possibilitar com que as palavras grafadas no papel expressassem tudo o que nunca sua garganta teve coragem de dizer à seu pai, Hermann Kafka. Um pensamento que me ocorreu durante toda a deglutição do livro é o de que, estranhamente, as duras sentenças que Kafka dedica a seu pai poderiam ser dedicadas a uma enorme quantidade de homens, cuja paternidade parte de uma experiência heteropatriarcal, de uma certa herança cultural colonial que se expressa dentro do ambiente familiar nuclear e suas relações… De observar o quanto poderiam ser dedicadas à sujeitos como meu próprio pai, meu tio, meu avô, e por vezes, mesmo que eu ainda não seja pai, a mim mesmo, em minhas relações… Kafka se dispõe a por essa dúzias de páginas, expressar não só a mais pura análise subjetiva e sistemática das relações desenvolvidas no seio de sua casa e da sua própria existência, mas de uma narrativa psicológica da experiência do ser filho desse homem e como isso influenciou absolutamente toda a sua vida, das mais diversas formas… No trabalho, nas relações amorosas, nas amizades, na sensibilidade… e em grande parte, de uma maneira negativa, com sentimentos muito ligados ao medo, à incerteza, à insuficiência, ao eterno medo da reprovação. Inicialmente, o autor elabora a obra como uma forma de responder à uma indagação de seu pai, um “porque você tem medo de mim ?”. Esse se mostra uma exercício fundamental para o movimento das ideias do autor. O medo sempre foi uma entidade ligada a seu pai, e que sempre o tutelou numa série de atividades da vida adulta como um fantasma. A experiência traumática que a relação com seu pai lhe trouxe se expressou durante sua vida através do medo, do medo da autoridade soberana que o pai exalava e que se fixou no seu caráter. Mas, é também no início do texto que o autor diz que acredita que o pai não tem culpa de todo esse processo, quando afirma: “Você só pode tratar um filho como você mesmo foi criado”, portanto que era “natural que fosse assim”, de alguma forma compreendendo o ciclo das opressões presentes na paternidade, isentando seu pai dos males a ele causado, reconhecendo seu papel dentro das instituições perpetuadas pela reprodução da estrutura patriarcal, do modelo da masculinidade dominante, isto é: todo o discurso ligado à virilidade, à força física, ao status social, ao poder sobre os outros corpos, à dominação sexual, moral, psicológica que deve exercer o homem sobre o universo. Compreensão essa que é central no processo de autoconhecimento e questionamento das nossas formações das masculinidades… Não o de espremer as memórias e os momentos traumáticos da relação paterna, já que esse me parece um exercício diário para os que lidam com situações de confronto com a expressão da masculinidade num processo autocrítico, mas o da prática empática e necessária de entender a relação cíclica de opressões, o que não significa isentar alguém da culpa, mas é tentar afastar a necessidade da vingança e da punição como forma de compreender melhor a questão estrutural do patriarcado. É comum ouvir o velho discurso do “meu pai me maltratava, mas eu sou diferente, não farei isso com você…” mesmo que na prática esses maltratos permaneçam estruturalmente na relação. Não basta apenas reconhecer esse processo, mas sim pensar em como ele se dá nas dinâmicas do cotidiano… O processo de afastamento do pai tóxico, por vezes, é só a mudança da roupagem das agressões, uma vez que o “O oprimido se tornou opressor” e não conhece outro modelo senão o da opressão, como Franz muito oportunamente relata no episódio em que ainda que um bebê seu pai o deixa para fora de casa por estar chorando, o que poderia ser ainda analisado sob a o discurso da educação punitivista como forma de socialização paterna, a eterna retórica do “Só assim pra aprender”. Outro nuance fundamental expresso na relação do autor e seu pai, é a grande influência que esse tem sobre a visão de mundo global do outro. “ [… para mim, você era a medida de todas as coisas.” E é partindo dessa régua chamada pai, um ser que observado da sua perspectiva de filho, de baixo pra cima, parece fisicamente com sua reflexão no espelho. O que tem o papel social de sustentação da sua vida (mesmo que materialmente, o trabalho de reprodução seja socialmente realizado pelas mulheres, …

  • Poesias antiracistas de Gloria Stefanie.

    Sem título Posso escutar os gritos Dos meus ancestrais Sendo chicoteados Por um branco sem coração Que diz que Preto não é gente Sinto a dor nas costas do açoite Que me machucam Ouço os gritos dos meus irmãos Pedindo misericórdia Sinto a dor De perder o corpo Para um homem branco Que acha que me domina Sinto a raiva de Zumbi Ao ver seus irmãos sofrerem Sinto Dandara dentro de mim Gritando por luta E ao mesmo tempo Seu corpo sendo jogado Na ribanceira (27/09/18) Mais um na multidão Socorro! Ouvi os gritos De uma mãe em desespero Ao ver o seu filho Jogado na escadaria Seus gritos são altos Cheios de dor Mas não são capazes De ressuscitar o filho Assinado pela polícia Dizem que ela era Um traficante E mais umas coisa aí Mas cê tá ligado, Que preto favelado Andando na rua Não precisa de razão para morrer Assim o estado faz Mata e depois vai Procurar o motivo (27/09/18) Gloria Stefanie, uma jovem preta de 18 anos, filha de uma mãe solo maravilhosa. Originária da Bahia mas residente de São Paulo desde os 4. Uma estudante na caminhada à Universidade com pretensões em Medicina. Autora de textos para a compreensão de mundo de maneira individual e também coletiva, assim, através das palavras luto por liberdade.

  • Diário da Pandemia

    Dia 24 de março, começo da quarentena em São Paulo. Acordei com choro de criança, era Maria minha filha caçula. Disse que teve um pesadelo onde todo mundo ficava preso dentro de casa e quem saia na rua morria.  Acho que as crianças estão vendo muito TV, agora que as escolas estão fechadas. Não consigo entreter eles com outras coisas.  Não posso sair de casa para trabalhar sem máscara, preciso comprar álcool em gel para as crianças e produtos de limpeza. Aqui em casa somos em três: eu e meus dois filhos. Não sei como vamos sobreviver em meio a essa pandemia. Na TV vejo a notícia: 47 mortos no Brasil.  O presidente pronuncia-se:  “No meu caso particular, pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado com o vírus, não precisaria me preocupar. Nada sentiria ou seria, quando muito, acometido de uma gripezinha ou resfriadinho”  “O vírus chegou, está sendo enfrentado por nós e brevemente passará. Nossa vida tem que continuar. Os empregos devem ser mantidos. O sustento das famílias deve ser preservado. Devemos, sim, voltar à normalidade.”  Dia 30 de março, amanhã preciso pagar o aluguel, ainda não tenho todo o dinheiro. Estou preocupada com a saúde das crianças, o menino acordou fraco e com dor de garganta. Preciso me acalmar um pouco, tento me distrair com a televisão. Escuto a notícia: 167 mortos no Brasil. Mas logo desligo.  – O que não estava no jornal?  David Nascimento vendedor ambulante de 23 anos. Cantor, sonhava em tomar os palcos com sua voz, foi morto depois de uma abordagem policial. Parece que para David a normalidade não funcionou, e nem seu emprego foi mantido, já que o mesmo era ambulante.  Dia 01 de abril, antes de ir ao banco receber meu auxílio passo na casa de minha mãe e do desocupado do meu pai. Fui levar limão, gengibre e um pouquinho de mel pra ela fazer aquele chá de sempre. Acho que ela se resfriou por causa da virada do tempo. Quando chego, me pega de surpresa o maldito jornal que tanto fujo: 244 mortos no Brasil.  E o que diz o presidente sobre o Brasil ter passado o número de mortos da China: “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre.”  Fui na fila do banco receber o dinheiro em papel. 600 reais. A fila do banco tava enorme, era tanta gente precisando desse dinheiro. Voltei pra casa depois de muito tempo. No caminho peguei caixotes de feira. Comprei banana, maçã, laranja, mandioca, batata, repolho, alface, tomate e gengibre. Liguei a televisão e coloquei a comida para as crianças no prato. Comecei a preparar uma horta com as crianças no quintal. Para ver se eles se interessam com a terra e permanecem em casa.  Enquanto eles mexiam na terra eu fui limpar a casa. Depois voltei para trabalhar na rua, fui vender máscara de algodão – agora com toda essa coisa de pandemia não posso mais montar minha barraquinha de acarajé. O pobre tem que fazer de tudo pra sobreviver até mesmo durante a pandemia.  Trabalhei apreensiva e agitada. Nas favelas as crianças e os jovens estão todos na rua. Estão jogando bola no terreno da escola. Empinando pipa em cada morro… Parece que nada está acontecendo. Trabalhei depressa para voltar pra casa e cuidar do meus filhos.  Dia 20 de abril, aproveitei o sol para estender a roupa, depois fui na vendinha da esquina comprar um pouco de fermento para fazer um bolo pra Maria. A bichinha faz aniversário hoje e não pode comemorar com as crianças da rua. Chegando lá, seu Luiz da venda me diz: Oi dona Lourdes, como a senhora tá hoje? Cê viu na TV? mais de 2.575 mortos no Brasil e 113 em 24 horas. Tamo perdido com esse governo.  Nesse mesmo dia, em Monte Alegre:  Corpo de jovem de 21 anos encontrado baleado e não se sabe o que aconteceu. E não há interesse em saber, até porque é só mais um corpo, que agora já não produz mais.  Dia 25 de abril, a Dona Dalva e suas irmãs começaram a gritar pra todo mundo ouvir: O pastor Soares trouxe a cura para o vírus! Aos domingos vai nos atender na sua Igreja. No vídeo que ela me mostrou no celular, o pastor está fazendo uma oração ao copo de água, enquanto isso pede dinheiro aos fiéis. Eu já vi esse pastor na televisão, pensa que o povo é besta. Por que todo esses ricos gostam de ganhar dinheiro em cima do povo? Acho que é assim que eles fazem riqueza.  Dia 26 de abril, …O maior desafio do pobre da atualidade é não passar fome.  Dia 30 de abril, hoje o bairro acordou triste, seu Ramón, um dos fundadores aqui do Limão morreu. Não sabe se foi de coronavírus, mas o pobre homem estava sofrendo de pneumonia e hoje, aos 88 anos, faleceu. Sua família mal pode se despedir, só deixaram três pessoas entrar no cemitério, não teve nem velório. Quando essas coisas acontecem assim, tão perto da gente, sentimos mais. Deus me livre eu morro, o que ia ser dos meus filhos? Hoje em dia a vida do pobre tá valendo menos que os testes de coronavírus, você morre e nem sabe do quê. E a triste notícia da TV 5.901 mortos no Brasil e 435 em 24 horas, será que seu Ramón está entre esses números?  Enquanto isso em Osasco:  2 jovens foram assassinados pela polícia na Ocupação Esperança. Um deles suplicou pela vida enquanto recebia os impactos de bala em seu corpo, e toda a comunidade foi aterrorizada para ficar em silêncio. Essa é a normalidade?  Dia 01 de maio, …Liguei a televisão e estava no programa da Ana Hickmann. Ela nos desejou “um ótimo dia” e disse “parabéns a nós trabalhadoras”. Pergunto o que ela quis dizer com o “nós”.  Dia 19 de maio, ontem mais de 734 pessoas morreram. Pessoas que eram crianças, jovens e também adultos. Pessoas que …

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